Chá Filosófico

OSTENTAÇÃO – O CULTO ÀS MARCAS

Por Márcia Tiburi

A hipervalorização de bens ditos “de marca” é uma característica das sociedades contemporâneas.  Delas advém a distinção como forma de poder que fascina tanto ricos quanto pobres no cenário da dessubjetivação partilhada por todos, da loja de luxo ao camelódromo das falsificações.

A questão da distinção guarda em seu fundo um aspecto mais tenebroso, concernente ao presente da condição subjetiva da vida dos usuários devorados pelas antipolíticas autodestrutivas do consumismo transformado em regra.

Zerada a intersubjetividade que se definia na interação afetiva e comunicativa entre pessoas, o que resta são as coisas – e as pessoas como coisas – que podem ser compradas. Diga-se de passagem que as pessoas não compram coisas, mas sinais que informam sobre um capital simbólico. Coisificação da consciência é o nome velho para o fenômeno em que a concretude das coisas é substituída pela abstração da insígnia.

A fascinação de tantas pessoas por roupas, carros e até eletrodomésticos ditos “de marca” em nossa época é a declaração auto-exposta da morte do sujeito. Espantalhos de uma ordem que previu o assassinato do desejo, do pensamento e da liberdade – conjunto do que aqui chamamos de subjetividade – são incapazes de compreender seu descarado simulacro.

A morte por assassinato da subjetividade é percebida na redução do indivíduo a uma espécie de morto-vivo em três tempos. 1 – A destituição do direito ao próprio desejo: a publicidade colonizou a capacidade de sentir e projetar a autobiografia de cada um que é apagada na encenação da “vida fashion”. 2 – A desaparição da possibilidade de pensar: a publicidade oferece os jargões e slogans a serem repetidos sob a ilusão de ideias próprias. 3 – O direito à ideia-prática da liberdade é extirpado: resta o simulacro da escolha entre uma marca e outra. A ação torna-se acomodação ao mesmo de sempre.

A escolha entre o nada e a coisa nenhuma é bem disfarçada no poder de ostentar que promete redimir do buraco subjetivo. Não tendo mais o que expressar, alguém simplesmente “ostenta” um relógio caro, um computador moderninho, um carrão oneroso. Ou um piercing, um músculo forte. Tudo e cada coisa é reduzida à marca, emblema do capital e seu poder na era do Espetáculo.

Cultura da falsa expressão

Podemos dizer que a ostentação é a cultura da pseudo-expressão no tempo das marcas. Se o poder de ostentar é proporcional ao esvaziamento da expressão, resta perguntar o que foi feito dessa potência humana? Ora, a expressão é fator subjetivo que se cria em um contexto social e político em que está em jogo a capacidade de “dizer alguma coisa”, de “dizer o que se pensa”, o que se “deseja”.

Só que fomos privados da expressão com a derrocada da formação de sujeitos desejantes, reflexivos e livres. Se as pessoas não dizem o que pensam, é porque a capacidade de pensar e dizer lhes foi extirpada. No lugar, podem travestir-se com a insígnia do poder fundamentalista das marcas da religião capitalista. A cruz para Cristianismo, a Estrela de Davi para o Judaísmo, a Lua Crescente para o Islamismo e uma marca famosa para o servo fiel do capital.

Os jovens são as principais vítimas dessa violência. Que sejam o “público alvo” quer dizer que são a presa fácil para um tiro certeiro. Os rebanhos de zumbis nikezados, abercrombizados, macdonaldizados, são arregimentados no exército de otários das massas manobradas, paramentados para o grande sacrifício sem ritual do capitalismo, em que a subjetividade é diariamente morta a pauladas.

A saída é a arte, a poesia, a negação ativa contra o uso e o consumo de marcas. A prática anti-capitalista é um ateísmo e começa com a recusa aos seus deuses como simples profanação cotidiana.

Fonte do texto: http://filosofiacinza.wordpress.com/2012/07/07/ostentacao/

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O Mito da Caverna de Platão

Imagine uma caverna grande, úmida e escura. Nessa caverna vivem algumas milhares de pessoas. Essas pessoas desde que nasceram, vivem com correntes nos braços, pescoço e pés, em cadeiras enfileiradas de modo que na frente dessas pessoas há um imenso paredão fino. Semelhante ao cinema moderno. Por trás das fileiras de cadeiras, há uma fogueira. Entre a fogueira e as cadeiras passam algumas pessoas com objetos e animais. Os sons dessas pessoas, objetos e animais ecoam pela caverna até chegar ao grande paredão e por fim chegar aos acorrentados. A luz que a fogueira emiti bate nessas pessoas, animais e objetos e nas demais pessoas acorrentadas fazendo surgir sombras no grande paredão. Essas pessoas acorrentadas vêem essas sombras como se fossem reais. Pois esse é o único mundo que conhecem. Mais acima da caverna, como se fosse os camarotes, vive os chamados amos da caverna. São eles que controlam todo o esquema. No topo da caverna, existe uma pequena saída pelo qual o sol emiti um pequeno feixe de luz que chega até lá embaixo, próximo às pessoas acorrentadas. Porém, entre a fogueira e o topo da caverna existe um imenso paredão bem íngreme, cheio de obstáculos, difícil de escalar. Do lado de fora da caverna existe árvores, rios, o sol… enfim, a natureza e alguns sábios. As sombras mais diferenciadas são eleitas pelos acorrentados para serem os líderes. Em diversas áreas. Enquanto as pessoas acorrentadas discutem entre si sobre o mundo em que vivem, os amos da caverna riem e caçoam deles. Uma das características desses amos é que eles não costumam aparecer. Não gostam de aparecer. Só que uma dessas pessoas, que chamaremos de Sócrates, começa a se questionar sobre toda essa situação. Quanto mais se questiona mais ele vai percebendo que há algo de errado nele e no mundo em que vive. As outras pessoas acorrentadas mais próximas já começam a olhar diferente pra ele. Sócrates não liga e começa a se remexer da cadeira. Quanto mais se remexe da cadeira, mais ele sente que há algo de estranho com ele. Até que um dia percebe que está acorrentado. Se você está dormindo, acorda e vê que está acorrentado, qual a sua reação, leitor? Pois bem, Sócrates não é diferente, e quer se libertar das correntes. Depois de muita luta, consegue se livrar das correntes. Primeiramente de braços e pescoço. Livre das correntes do pescoço ele pode olhar de lado e pra trás e vê, as pessoas acorrentadas, a fogueira, enfim, ter uma visão da caverna e perceber que esse mundo é uma ilusão. Depois, consegue se livrar das correntes dos pés. Analise bem: ele nasceu e cresceu nessa situação, nunca andou. Quando se levante e começa a andar tem extrema dificuldade. Já está desgastado pelo imenso esforço que teve pra se livrar das correntes. Mas consegue se adaptar e andar. Sócrates tenta alertar os outros acorrentados, inclusive os amigos, porém, sem sucesso. Pois esses acorrentados se julgam viver em um relativo “conforto” e tomam esse mundo como real. Quando vêem o estado de Sócrates, todo desgastado fisicamente e até psicologicamente, dizendo que o mundo em que vivem não é real, que vivem numa caverna úmida e escura, e etc… alguns acorrentados chegam até a chamá-lo de louco. Sócrates vê que não vai obter sucesso e vê um pequeno feixe de luz vindo do topo da caverna, ele decide ir em direção a essa luz. Mas para isso é preciso escalar um grande paredão íngreme, cheio de obstáculos. Na escalada, de vez em quando escorrega, cai, e volta a escalar. Depois de muita luta, ele chega ao topo da caverna, e consegue sair da caverna. Vê o sol pela primeira vez, e nesse momento quase fica cego, pois nunca havia visto tanta luz. Depois de um tempo, ele consegue se adaptar a luz do sol, mas ainda com a vista não muito boa. Ele vê a natureza, os sábios e etc. Conversa com alguns sábios e vê que este é o mundo real. Porém, bate um sentimento de misericórdia: e os amigos e todas as outras pessoas acorrentadas, vivendo nesta caverna achando que vivem num mundo real? Ele decide voltar. A descida foi tão difícil quanto à subida do paredão. Chegando nos amigos acorrentados, com a vista ruim, todo arrebentado, ele vai tentar liberta alguns acorrentados. Porém a recepção foi pior do que antes, quando ele tentou alerta-los antes de subir. Vê que alguns até são capazes de lutar ferozmente para proteger as correntes. Então, Sócrates chega a conclusão que o segredo é contar aos poucos, começando inicialmente a dizer que estão com os braços acorrentados, por exemplo. Observa também que existe algumas pessoas que começam a se questionar e tem uma certa disposição a ouvi-lo. Essas pessoas são os idealistas. Uma dessas pessoas solta os braços e o pescoço, e como esse está numa condição parecida com o amigo acorrentado ao lado, este amigo acorrentado vai está mais disposto á ouvi-lo. Outro que consegue perceber que está acorrentado e começa a se remexer da cadeira, conta pro amigo ao lado que aquele mundo é uma ilusão e é preciso acordar. Assim uns vão se soltando, ajudando os mais próximos e também, caminhando em direção ao feixe de luz. Criando assim uma corrente discipular de mestre e discípulos. O que se solta é o filósofo. A luz do sol é a verdade. O que desce para ajudar os outros acorrentados é o político. As sombras, o mundo da ilusão. A luz da fogueira, os nossos desejos. As correntes, a ignorância. Os amos são aqueles que controlam e mantém o mundo da ilusão tirando proveito da situação. Os acorrentados são a humanidade. O caminho de escalada até a luz do sol está cheio perigos: diversas crenças estranhas, ideologias confusas, materialismo e/ou misticismo em excesso, armadilhas etc. Esses são os obstáculos. A filosofia vem pra proteger esse idealista que está se remexendo da cadeira, mostrar atalhos seguros na escalada, até chegar ao topo da caverna e voltar.

Esse é um resumo do Mito da Caverna, o capítulo VII do livro A República, que é de autoria do filósofo grego Platão. Mesmo escrito no século IV a.C., continua atual. Aliais, existem várias obras que se referem a esse mito como o filme Matrix e o livro Alice no País das Maravilhas.

Questione-se: será que os muitos líderes do presente e do passado, não são as sombras do Mito da Caverna? Ou são os amos? Será que não está faltando filósofos na política? Não só na política como em outras áreas? E como distinguir a verdadeira filosofia da falsa filosofia? São muitas as perguntas. Os antigos já diziam que a filosofia é a mãe de todas as ciências, e que a reposta está dentro de nós. É só procurarmos nos tornar, verdadeiramente, o que somos: seres humanos. Assim sendo, reconheceremos facilmente, quem é quem e qual caminho seguirmos. Como diria Sócrates: “Conhece-te a ti mesmo”. Fonte do texto http://jornaldedebates.uol.com.br/debate/quando-vai-acabar-corrupcao-no-brasil/artigo/mito-caverna-platao/12524

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A ilusão de uma economia verde

16/10/2011 – Leonardo Boff

Tudo o que fizermos para proteger o planeta vivo que é a Terra contra fatores que a tiraram de seu equilíbrio e provocaram, em conseqüência, o aquecimento global é válido e deve ser apoiado. Na verdade, a expressão “aquecimento global”esconde fenômenos como: secas prolongadas que dizimam safras de grãos, grandes inundações e vendavais, falta de água, erosão dos solos, fome, degradação daqueles 15 entre os 24 serviços, elencados pela Avaliação Ecossistêmica da Terra (ONU), responsáveis pela sustentabilidade do planeta(água, energia, solos, sementes, fibras etc).

A questão central nem é salvar a Terra. Ela se salva a si mesma e, se for preciso, nos expulsando de seu seio. Mas como nos salvamos a nós mesmos e a nossa civilização? Esta é real questão que a maioria dá de ombros,especialmente os que tratam da macroeconomia.

A produção de baixo de carbono, os produtos orgânicos, energia solar e eólica, a diminuição, o mais possível, de intervenção nos ritmos da natureza, a busca da reposição dos bens utilizados, a reciclagem, tudo que vem sob o nome de economia verde são os processos mais buscados e difundidos. E é recomendável que esse modo de produzir se imponha.

Mesmo assim não devemos nos iludir e perder o sentido critico. Fala-se de economia verde para evitar a questão da sustentabilidade que se encontra em oposição ao atual modo de produção e consumo. Mas no fundo, trata-se de medidas dentro do mesmo paradigma de dominação da natureza. Não existe o verde e o não verde. Todos os produtos contem nas várias fases de sua produção, elementos tóxicos, danosos à saúde da Terra e da sociedade. Hoje pelo método da Análise do Ciclo de Vida podemos exibir e monitorar as complexas inter-relações entre as várias etapas, da extração, do transporte, da produção, do uso e do descarte de cada produto e seus impactos ambientais. Ai fica claro que o pretendido verde não é tão verde assim. O verde representa apenas uma etapa de todo um processo. A produção nunca é de todo ecoamigável.

Tomemos como exemplo o etanol, dado como energia limpa e alternativa à energia fóssil e suja do petróleo. Ele é limpo somente na boca da bomba de abastecimento. Todo o processo de sua produção é altamente poluidor: os agrotóxicos aplicados ao solo, as queimadas, o transporte com grandes caminhões que emitem gases, as emissões das fábricas, os efluentes líquidos e o bagaço. Os pesticidas eliminam bactérias e expulsam as minhocas que são fundamentais para a regeneração os solos; elas só voltam depois de cinco anos.

Para garantirmos uma produção, necessária à vida, que não estresse e degrade a natureza, precisamos mais do que a busca do verde. A crise é conceptual e não econômica. A relação para com a Terra tem que mudar. Somos parte de Gaia e por nossa atuação cuidadosa a tornamos mais consciente e com mais chance de assegurar sua vitalidade.

Para nos salvar não vejo outro caminho senão aquele apontado pela Carta da Terra:”o destino comum nos conclama a buscar um novo começo; isto requer uma mudança na mente e no coração; demanda um novo sentido de interdependência global e de responsabilidade universal”(final).

Mudança de mente significa um novo conceito de Terra como Gaia. Ela não nos pertence, mas ao conjunto dos ecossistemas que servem à totalidade da vida, regulando sua base biofísica e os climas. Ela criou toda a comunidade de vida e não apenas nós. Nós somos sua porção consciente e responsável. O trabalho mais pesado é feito pelos nossos parceiros invisíveis, verdadeiro proletariado natural, os microorganismos, as bactérias e fungos que são bilhões em cada culherada de chão. São eles que sustentam efetivamente a vida já há 3,8 bilhões de anos. Nossa relação para com a Terra deve ser como aquela com nossas mães: de respeito e gratidão. Devemos devolver, agradecidos, o que ela nos dá e manter sua capacidade vital.

Mudança de coração significa que além da razão instrumental com a qual organizamos a produção, precisamos da razão cordial e sensível que se expressa pelo amor à Terra e pelo respeito a cada ser da criação porque é nosso companheiro na comunidade de vida e pelo sentimento de reciprocidade, de interdependência e de cuidado, pois essa é nossa missão.

Sem essa conversão não sairemos da miopia de uma economia verde.Só novas mentes e novos corações gestarão outro futuro.

Fonte: http://leonardoboff.wordpress.com/2011/10/16/a-ilusao-de-uma-economia-verde/

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Jobs

À medida que vamos ouvindo as notícias sobre a morte de Steve Jobs e, principalmente, sobre sua influência a respeito das novas gerações, questiono o papel das novas tecnologias e o grande sofrimento do próprio Jobs.

Há um indicativo nas nossas últimas décadas de que a tecnologia é indispensável, que todo e qualquer esforço humano em evitá-la é uma bobagem e pode significar retrocesso no modo de operar no sistema capitalista e, muitas vezes, na própria condição de reprodução social.

O uso de equipamentos e máquinas para benefício das pessoas é o resultado do avanço da ciência e do investimento em grande vulto, de indivíduos, empresas e governos, de forma a reduzir o sofrimento humano e garantir, em larga escala, a continuidade da satisfação das necessidades.  Se nem todos têm acesso a esse grupo de benefícios é porque sua renda não atinge o patamar mínimo desejado pelo mercado, ou porque os governos falham  ao  subsidiar o acesso.

Digo benefícios porque tudo deve ser direcionado para facilitar a atividade, adequar à saúde, reduzir a periculosidade e a insalubridade, aumentar a quantidade produzida e elevar o chamado “bem-estar social”.

Quando grupos de cientistas, engenheiros e técnicos se reúnem em sua atividade, certamente visam seus ganhos: uns visam prêmios, outros lucros e todos, a possibilidade de inovar e trazer ao cotidiano uma obra que seja considerada útil, duradoura e de acesso facilitado.

Vejo, na saga de Jobs, a busca por benefícios e inovação, de forma a atingir um público cada vez mais crescente, e não só do ponto de vista do consumo, mas da própria necessidade de estar atualizado com as tecnologias mais recentes.

Do ponto de vista do trabalho, me parece que grande parte das atividades atuais já absorveu o uso da informática e tornam o usuário dependente de sistemas operacionais, aplicativos e equipamentos  sofisticados e que diferenciam sobremaneira os indivíduos capazes de conseguir seu controle. Digo isso, porque as gerações da era da informática não se desprendem dessa tecnologia moderna  e aprofundam, cada vez mais, sua funcionalidade, atravessando barreiras de comunicação, entretenimento, pesquisa e conhecimento, tudo através da virtualidade. Certamente, isso define  o novo mercado de trabalho em que, aqueles que não estão plugados em equipamentos  modernos e não atualizam seus acessos, revestindo-se de uma estrutura voltada à atividade braçal, dificilmente têm condições de usufruir os benefícios dessa oferta gigantesca de virtualidade.

Imagino um trabalhador do setor agrícola, que tenha trabalho temporário, dificuldade de estabelecer  residência, ou um trabalhador urbano que empregue sua força de trabalho em atividades de serviço que não estejam aliadas à produção textual ou de imagens, tampouco à música ou as artes e que não possa, pela natureza da ação, executar os aplicativos disponíveis no mercado. Seu esforço será em adquirir equipamento para uso doméstico, com disponibilidade reduzida de tempo para uso e, com a limitação que todos temos que é a da rede de relacionamento.

Smart phones podem aproximar pessoas e ideias, podem criar redes muito resistentes aos próprios propósitos de expansão capitalista.  As redes tendem a gerar poder  de persuasão, e, assim, podem alterar escolhas, demandas e mercados, eleições, leis e condições gerais de vida.

Jobs elevou a capacidade humana de resolver problemas e, por isso,  chegou à reverência que a semana destacou. Todo seu ganho e conhecimento, porém, não foi capaz de parar um problema do qual a humanidade ainda não se livrou: o câncer.

E é a esse ponto que o conhecimento humano precisa evoluir, para darmos mais um verdadeiro salto em busca do “bem-estar social”. Equipamentos, aplicativos, construções, tudo isso tem grande valor e o ser humano se apraz. Agora, o essencial ainda é a vida, a saúde.

Que a vida de Jobs tenha sensibilizado aqueles que podem investir, pesquisar e atuar com afinco nas áreas e nas tarefas que dignifiquem, engrandeçam, e sobretudo, mantenham a vida.

Meu abraço, Luiz Fernando.

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Ecologia Profunda

A natureza, cuja evolução é eterna, possui valor em si mesma, independentemente da utilidade econômica que tem para o ser
humano que vive nela. Esta idéia central define a chamada ecologia profunda – cuja influência é hoje cada vez maior – e expressa a percepção prática de que o homem é parte inseparável, física, psicológica e espiritualmente, do ambiente em que vive.
Na nova era global, milhões de pessoas voltam a perceber que o sentimento de comunhão com a natureza é um dos mais elevados de que o ser humano é capaz, e fonte de grande felicidade. Não é coisa do passado ou um costume do tempo das cavernas. Ao contrário, deverá marcar as civilizações do futuro. Em qualquer tempo histórico, o convívio direto com a natureza foi e será um fator decisivo para o bem-estar físico e psicológico do ser humano.
A expressão ecologia profunda foi criada durante a década de 1970 pelo filósofo norueguês Arne Naess, em oposição ao que ele chama de “ecologia superficial” – isto é, a visão convencional segundo a qual o meio ambiente deve ser preservado apenas por causa da sua importância para o ser humano.
Ao nível superficial, o homem coloca-se como centro do mundo e quer preservar os rios, o oceano, as florestas e o solo porque são instrumentos do seu próprio bem-estar. Quando olha para o meio ambiente com esta preocupação, o homem só enxerga os seus próprios interesses, já que, inconscientemente, se considera a coisa mais importante que há no universo. Olha a árvore e vê madeira. Olha o solo e vê o potencial agrícola ou a possível exploração de minérios.
Olha o rio e vê um curso d’água navegável por barcos de determinado porte. Ele sabe que deve preservar os chamados recursos naturais, porque são preciosos. A natureza para ele é um grande cofre, abarrotado de riquezas renováveis, mas que deve ser cuidadosamente preservado. Daí a necessidade de autoridades ambientais atuantes e uma boa legislação que preserve o meio ambiente.
Este nível da consciência ecológica tem importância, porque faz com que os seres humanos questionem seu comportamento econômico e comecem a perceber mais claramente que a ética, afinal, dá bons resultados. A postura mais primitiva, de mera pilhagem, vem sendo deixada de lado em grande parte da economia. As políticas públicas de meio ambiente têm reforçado até hoje prioritariamente este primeiro nível, claramente insuficiente, de consciência ambiental. A multa, a repressão, a aplicação da legislação ambiental e a fiscalização seriam instrumentos muito úteis em curto prazo, se no Brasil a política nacional de meio ambiente não tivesse sido tão persistentemente esvaziada.
Mas as boas notícias são mais fortes que as más. Uma nova consciência empresarial já repensa o conjunto das atividades econômicas a partir da meta de administrar sabiamente, em longo prazo, os recursos naturais. As gerações mais recentes de empresários e executivos trazem consigo uma forte consciência ambiental. Sua atitude é compatível com a descrição holista do universo e com a ecologia profunda.
Progresso econômico e bem-estar material deixam de ser inimigos da preservação ambiental ou da busca espiritual. As novas tecnologias permitem aumentar a produção, ao mesmo tempo em que se diminui, radicalmente, o impacto ambiental. O verdadeiro progresso econômico – surge agora um consenso em torno disso – deve ser socialmente justo e ecologicamente sustentável.
As medidas convencionais e de curto prazo para a preservação ambiental combatem os efeitos da devastação e pressionam pela gradual adaptação das atividades econômicas às leis da natureza. Mas a ecologia profunda dá um sentido maior às estratégias convencionais de preservação. Atacando as causas ocultas da devastação, projeta e estimula o surgimento de uma nova civilização culturalmente solidária, politicamente participativa e ecologicamente consciente.
Em última instância, as causas da destruição ambiental são o individualismo ingênuo, o sentimento de cobiça material sem freios e a ilusão de que o ser humano está separado do meio ambiente, podendo agir sobre ele sem sofrer as conseqüências do que faz.
Ter isto claro é importante. No entanto, não basta uma percepção teórica deste dilema ético. Além de compreender intelectualmente o princípio da unidade ecológica de tudo o que há, é oportuno vivenciar e deixar-se inspirar pelo sentimento da comunhão com a natureza.
Deste modo, aprende-se a colocar cada um dos processos econômicos e sociais a serviço da vida, já que é absurdo pretender inverter o processo e colocar a vida a serviço deles.
Não há, pois, oposição real entre a ecologia convencional ou de curto prazo e a ecologia profunda ou mística. São dois níveis diferentes de consciência. Ambos são indispensáveis, e são mutuamente inspiradores. Foi em meados da década de 1980 que diversos pensadores – Warwick Fox, Henryk Skolimowski e Edward Goldsmith, além do próprio Arne Naess – começaram a produzir textos variados a partir do ponto de vista da ecologia profunda.
A nova física e a nova biologia, com Fritjof Capra, Gregory Bateson, Rupert Sheldrake, David Bohm, e também os trabalhos científicos de James Lovelock e Humberto Maturana, entre outros, deram legitimidade científica à ecologia profunda. Em sua vertente religiosa, esta corrente de pensamento tem ampla base de apoio na tradição mística de todas as grandes religiões da humanidade.
São Francisco de Assis, padroeiro da ecologia, está longe de ser uma figura isolada.
Cauteloso, Arne Naess recusou-se a criar um sistema racionalmente coerente – um circuito fechado de idéias – capaz de limitar o conceito de ecologia profunda, e manteve-o como uma idéia aberta segundo a qual a variedade da vida é um bem em si mesma. Para Naess, esta ecologia surge do reconhecimento interior da nossa unidade com a natureza. O fato nem sempre requer explicações e muitas vezes não pode ser descrito com palavras. Mas a ação freqüentemente mostra com clareza o que é ecologia profunda.
Em certa ocasião, um rio da Noruega foi condenado à destruição para que fosse construída uma grande hidrelétrica. As margens do curso d’água seriam inundadas para que se fizesse o lago da barragem. Um nativo do povo Sami recusou-se, então, a sair do lugar. Quando, finalmente, foi preso por desobediência e retirado dali à força, ele não teve opção. Mais tarde a polícia perguntou-lhe por que se recusara a sair do rio. Sua resposta foi lacônica: “Este rio faz parte de mim mesmo”.
 O indígena estava certo. O meio ambiente faz, realmente, parte de nós mesmos. São dele o ar que respiramos e a água que compõe 70 por cento do nosso corpo físico. Dele vêm os nutrientes que renovam a cada instante as nossas células. Esta unidade dinâmica não está limitada ao plano material da vida, mas também é psicológica e espiritual, mesmo que alguns de nós não tenhamos plena consciência disso.
A Vida Secreta da Natureza reúne textos publicados inicialmente nas revistas Planeta, Planeta NovaEra e outras publicações. A seguir, veremos experiências de contato direto com o mundo natural como fonte de inspiração para a alma humana em seu crescimento interior. E também reflexões sobre a proposta de um desenvolvimento ecologicamente sustentável; sobre a cidadania local e global como base para a construção de uma civilização solidária; e sobre a poderosa combinação atual entre o pensamento ecológico, a ciência moderna e a tradição esotérica.
Autor:Carlos Cardoso Aveline – Associado da Loja Unida de Teosofistas, L.U.T., e membro da Universidade da Paz, Unipaz

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 O sapo e a água quente

Vários estudos biológicos demonstram que um sapo colocado num recipiente com a mesma água de sua lagoa, fica estático durante todo o tempo em que aquecemos a água, mesmo que ela ferva. O sapo não reage ao gradual aumento de temperatura (mudanças de ambiente) e morre quando a água ferve, inchado e feliz. Por outro lado, outro sapo que seja jogado nesse recipiente com a água já fervendo salta imediatamente para fora. Meio chamuscado, porem vivo.

Às vezes, somos sapos fervidos. Não percebemos as mudanças. Achamos que está tudo muito bom, ou que oque esta mal vai passar – e só questão de tempo. Estamos prestes a morrer, mas ficamos boiando, estáveis e apáticos, na água que se aquece a cada minuto. Acabamos morrendo inchadinhos e felizes, sem termos percebido as mudanças a nossa volta. 

Sapos fervidos não percebem que além de ser eficientes tem que fazer as coisas. E, para que isso aconteça, há necessidade de um continuo crescimento, com espaço para o dialogo, para a comunicação clara, para dividir e planejar, para uma relação adulta. O desafio ainda maior esta na humildade em atuar respeitando o pensamento do próximo. Há sapos fervidos que acreditam que o fundamental é a obediência, e não a competência: manda quem pode, e obedece quem tem juízo. E, nisso tudo, onde esta a vida de verdade? E melhor sair meio chamuscado de uma situação, mas vivos e prontos para agir. Fonte: http://www.portalcmc.com.br/met330.htm

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Liberdade anda junto com sustentabilidade

Outro dia me perguntaram o que é preciso fazer para que as pessoas tomem consciência da situação de crise do planeta e transformem suas ações no mundo numa extensão desse entendimento. Bom, daí que fiquei pensando no assunto, tentando me colocar na posição de alguém que ainda não despertou para a urgência de mudanças comportamentais.

Uma coisa que me veio à mente tem a ver com a falsa idéia de que nunca tivemos tanta liberdade como temos hoje em dia. E estou falando do Brasil mesmo, especificamente. Com a economia mais estável, milhões de brasileiros subiram para a condição de consumidores de bens e serviços, e acreditam que, por isso, são mais livres. E exatamente agora, o discurso que eles ouvem vez e outra diz que não dá mais para consumir como fazíamos antes. Como assim, se somente agora eles têm como comprar um automóvel, adquirir mais roupas, móveis e eletrodomésticos, comprar um celular novo a cada três meses? Isso me lembra o velho embate entre os hemisférios Norte e Sul: o Norte, depois de destruir suas florestas começou a querer impor limites para a exploração das reservas naturais do Sul… O mesmo serve para os países emergentes, como a China, que hoje só quer crescer, crescer e crescer, ainda que os rumos do planeta apontem a necessidade de mudarmos de direção, com mais cautela em relação aos impactos socioambientais.

É difícil, realmente, sustentar idéias antagônicas de crescimento e sustentabilidade. E a própria mídia se confunde nessa história, relatando com alegria o aumento do consumo e, por outro lado, querendo mostrar que a população e as empresas estão ficando mais consciente dos desafios socioambientais. (Será?)

Voltando à idéia das falsas liberdades, é preciso notar que as pessoas erram ao considerar-se mais livres por conta da sensação de mais poder de consumo. Consumir mais não significa ser mais livre. Ao contrário, significa estar mais dependente de uma série de bens e serviços e, mais ainda, de um trabalho que suga nosso tempo e nossa criatividade e cada vez menos consegue dar conta de nossas novas demandas.

Pense comigo: dez ou quinze anos atrás, ninguém tinha celular, nem internet, nem pacote de tv por assinatura, nem iPad, nem iPhone, nem tantos carros na garagem, nem tanto crédito para comprar, comprar e comprar. Certamente, nossos salários não subiram na mesma proporção das nossas novas “necessidades” de consumo, certo? E, no entanto, cá estamos, felizes com a possibilidade de nos envolvermos num mar de quinquilharias com prazos de validade – por conta da obsolescência – cada vez menores, ainda que a conta do cartão de crédito represente sempre uma curva ascendente. 

Liberdade, é preciso entender, caminha junto com sustentabilidade. Hábitos mais ecológicos – acredite! – é que nos dão mais autonomia e, com ela, mais liberdade. Quer ver só? Toda vez que optamos por andar de bike pela cidade, no fundo estamos decretando nossa liberdade diante das indústrias automobilística e petrolíferas. Quando cultivamos uma horta orgânica em casa estamos, na verdade, diminuímos nossa dependência das indústrias do agronegócio e dos mercados distribuidores desses produtos. Da mesma forma, quando compramos menos roupas estamos dizendo ao mundo: “não preciso de tudo isso”. Em outras palavras, somos mais livres.

Não é incrível? Não é curioso pensar assim, invertendo uma lógica tão arraigada na sociedade? Aqueles que optam por uma vida mais simples, voluntariamente, estão, de fato, conquistando mais liberdade! Pense nisso! 

É claro que cada um tem seu caminho e vai despertar para isso de um jeito particular. O problema é que, muitas vezes, buscamos uma resposta única, mágica, uma fórmula que sirva para todo mundo, quando o que ocorre é a obviedade de que ninguém é igual a ninguém, cada um tem a sua maneira de se relacionar no mundo – como me disse, em certa ocasião, o professor Enrique Ortega, da Unicamp. “Então, é preciso que cada um descubra a sua maneira de acordar, de se transformar”, completou.

Não importa qual seja o gatilho, importa que ele aconteça, seja descoberto. Tem gente que passa a mudar atitudes depois de vivenciar alguma situação de dor, de perda ou sacrifício, como costumam fazer os sobreviventes de um desastre ambiental ou de uma guerra civil. Outras conseguem mudar pelo medo do porvir e há aquelas, ainda, que apostam no amor que sentem pelas crianças, pela família, pelos animais, pelas belas paisagens naturais que resistem à fúria humana. Espero, de coração, que você possa fazer parte deste último grupo, libertando-se de amarras desnecessárias e seduções de consumo que, no fim, só fazem deixar tudo como está.

Ilustração: Valdinei Calvento (Cabelo). Para mim, ele soube representar a liberdade em sua forma mais simples e plena. Tudo que quero é sentir o mundo como essa menininha… Fonte do texto http://planetasustentavel.abril.com.br/blog/gaiatos/liberdade-anda-junto-sustentabilidade-293398_post.shtml

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DO BOM E DO MELHOR

Por Leila Ferreira*

Estamos obcecados com “o melhor”..
Não sei quando foi que começou essa mania, mas hoje só queremos saber do “melhor”.
Tem que ser o melhor computador, o melhor carro, o melhor emprego, a melhor dieta, a melhor operadora de celular, o melhor tênis, o melhor vinho. Bom não basta.

O ideal é ter o top de linha, aquele que deixa os outros pra trás e que nos distingue, nos faz sentir importantes, porque, afinal, estamos com “o melhor”.
Isso até que outro “melhor” apareça – e é uma questão de dias ou de horas até isso acontecer.
Novas marcas surgem a todo instante.
Novas possibilidades também. E o que era melhor, de repente, nos parece superado, modesto, aquém do que podemos ter.
O que acontece, quando só queremos o melhor, é que passamos a viver inquietos, numa espécie de insatisfação permanente, num eterno desassossego.
Não desfrutamos do que temos ou conquistamos, porque estamos de olho no que falta conquistar ou ter. Cada comercial na TV nos convence de que merecemos ter mais do que temos.
Cada artigo que lemos nos faz imaginar que os outros (ah, os outros….) estão vivendo melhor, comprando melhor, amando melhor, ganhando melhores salários. Aí a gente não relaxa, porque tem que correr atrás, de preferência com o melhor tênis. Não que a gente deva se acomodar ou se contentar sempre com menos.
Mas o menos, às vezes, é mais do que suficiente. Se não dirijo a 140, preciso realmente de um carro com tanta potência?
Se gosto do que faço no meu trabalho, tenho que subir na empresa e assumir o cargo de chefia que vai me matar de estresse porque é o melhor cargo da empresa?
E aquela TV de não sei quantas polegadas que acabou com o espaço do meu quarto?
O restaurante onde sinto saudades da comida de casa e vou porque tem o “melhor chef”?
Aquele xampu que usei durante anos tem que ser aposentado porque agora existe um melhor e dez vezes mais caro? O cabeleireiro do meu bairro tem mesmo que ser trocado pelo “melhor cabeleireiro”?
Tenho pensado no quanto essa busca permanente do melhor tem nos deixado ansiosos e nos impedido de desfrutar o “bom” que já temos.
A casa que é pequena, mas nos acolhe.
O emprego que não paga tão bem, mas nos enche de alegria. A TV que está velha, mas nunca deu defeito.
O homem que tem defeitos (como nós), mas nos faz mais felizes do que os homens “perfeitos”.
As férias que não vão ser na Europa, porque o dinheiro não deu, mas vai me dar a chance de estar perto de quem amo.
O rosto que já não é jovem, mas carrega as marcas das histórias que me constituem.
O corpo que já não é mais jovem, mas está vivo e sente prazer.
Será que a gente precisa mesmo de mais do que isso? Ou será que isso já é o melhor e na busca do “melhor” a gente nem percebeu?

*Leila Ferreira é uma jornalista mineira com mestrado em Letras e doutorado em Comunicação que, apesar de doutorada em Londres, optou por viver uma vidinha mais simples em BH….

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Devagar, que eu tenho pressa.*:

Viver na correria é moderno e emblemático. Muita gente a adota por considerá-la inevitável.
Eu não gosto da correria. Também não a considero inevitável.
Pergunte-me como estou e, dependendo do momento, direi que estou muito bem ou que não estou bem. E ponto.
Agora, se você me disser que anda na correria, vou duvidar.
A esmagadora maioria das pessoas que diz viver na correria é desorganizada e atrapalhada.
É ruim da cabeça ou doente do pé (Grande Caymmi, que nunca viveu na correria e fez tanta coisa linda pela vida afora!).
Não preciso (ninguém precisa) estar em todos os lugares, ao mesmo tempo. Não tenho que fazer tudo, depressa.
Tenho que fazer o essencial. Bem-feito. O essencial, bem-feito, nunca é feito na correria.
A correria mascara um monte de coisas:
a incompetência e o vazio interior das pessoas,
a desorientação, a falta de planejamento,
a insegurança e o medo pânico da perda de espaço,
de status e de algum poder.
Vivo muito bem sem isso. Sou um sem-blackberry.
E, neste momento, vou muito bem, obrigado.
*A frase Devagar, que eu tenho pressa foi dita por Napoleão Bonaparte.
Fonte: http://provocadordaalfamidia.blogspot.com/2010/09/devagar-que-eu-tenho-pressa.html

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Em tempos de crise econômica internacional e do Fórum Social Mundial, é interessante refletir sobre o que seria mesmo essa crise:

O que é mesmo uma crise capitalista?
Desde logo, vejamos o que não é uma crise capitalista:
crise 01Haver 950 milhões de famintos em todo o mundo não é uma crise capitalista.
Haver 4,75 bilhões de pobres no mundo não é uma crise capitalista.
Haver 1 bilhão de desempregados espalhados por todo o mundo não é uma crise capitalista.
Haver mais de 50% da população mundial no subemprego ou que trabalhe em condições precárias não é uma crise capitalista.
Haver 45% da população mundial sem a acesso direto à água potável não é uma crise capitalista.
Haver 3 bilhões de pessoas sem saneamento básico não é uma crise capitalista.
Haver 113 milhões de crianças sem acesso à educação e 875 milhões de adultos analfabetos não é uma crise capitalista.
Morrerem 12 milhões de crianças todos os anos por doenças que são perfeitamente curáveis não é uma crise capitalista.
Morrerem 13 milhões de pessoas a cada ano por causa da deterioração dos ambientes naturais e por mudanças climáticas não é uma crise capitalista.
Haver 16.306 espécies em vias de extinção, das quais 25% são mamíferos não é uma crise capitalista.
Tudo isto, como se sabe, já havia antes, e não gerou nenhuma crise capitalista.
Pode ser tudo, mas não é, segundo os economistas de mercado e “especialistas” na matéria, uma crise capitalista.

O que é, então, uma crise capitalista? Ou, dito por outras palavras, quando é que começa a sentir-se uma crise capitalista?
crise 02A crise capitalista aparece quando os lucros esperados, e que são o fim e a razão de ser das empresas capitalistas, não são alcançados. Aí sim, quando os lucros já não são tão elevados como se esperava, fala-se então de uma crise capitalista. Ou seja, a crise capitalista surge quando os fatos associados aos indicadores sócio-econômicos acima referidos sobre a fome, a pobreza, o desemprego, a precariedade, a escassez de água potável e de apoio sanitário, mostram que não são suficientemente maus e negativos para garantir a rentabilidade dos investimentos e do capital dos poderosos grupos e empresas multinacionais, pelo que a manutenção da rentabilidade desses conglomerados empresariais exigirá ainda uma maior degradação das condições sociais de vida das populações como meio para garantir as tão almejadas taxas de lucro das grandes empresas mundiais, que são quem verdadeiramente dominam o mundo, segundo a lei que as governa, isto é, a maximização do lucro e a capitalização dos ganhos.
Curiosamente, dizem os “donos” deste mundo que quem não pensa em função da maximização dos lucros e da acumulação do capital, esses são pessoas sonhadoras, irresponsáveis, líricas, idealistas, subversivos…
Mas, afinal, quem se mostra verdadeiramente fanatizado pelo fundamentalismo do lucro e do capital, longe das realidades e das necessidades das populações, quem tem sido responsável pelo crescimento insustentável e desigualitário, quem se revela completamente viciado na roleta desta economia de cassino como é o capitalismo, são essas figuras pardas, cínicas e sombrias que nos governam, exploram e oprimem. Fonte: http://pimentanegra.blogspot.com/

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O mundo sem nós – Alan Weisman

The World Without UsQualquer um cuja mente seja açodada por um mínimo de imaginação já conjeturou um mundo sem seres humanos. O que aconteceria se nós, humanos – cuja passagem pelo planeta Terra ocupa um ínfimo espaço no calendário global – simplesmente desaparecêssemos? Que catástrofes adviriam desta ausência? E que benefícios? É este o pano de fundo do livro “O Mundo Sem Nós” (The World Without Us), do jornalista Alan Weisman (veja aqui o site do livro).

Weisman traça um cenário aterrador sobre a influência daninha que o homem exerce sobre o planeta. Em suas 382 páginas, o livro deixa claro que, longe de ser o provedor que se imagina, o homem tem colaborado para o envenenamento contínuo de sua casa e, extinto, apenas interromperia este processo, fazendo com que a natureza, pouco a pouco, voltasse a ocupar os espaços da qual foi expulsa pelo “progresso”.

Diante da nefasta ação humana sobre o meio ambiente, há quem defenda que os seres-humanos tomem a iniciativa de deixar em paz a natureza. É o caso do “Movimento de Extinção Humana Voluntária” (VEHMT), que pretende suprimir a raça humana ao, voluntariamente, deixar de procriar, permitindo à biosfera terrestre retornar à boa saúde. Pode parecer maluquice, mas o movimento é sério e, diante da destruição que proporcionamos, tem fundamento. “Fazer tornar a Terra ao seu esplendor natural e encerrar o sofrimento inútil da humanidade são pensamentos positivos”, afirma o VEHMT.

Boa parte do livro se dedica a explicar o que aconteceria com o mundo caso os seres humanos fossem extintos. A partir de entrevistas com zoólogos, biólogos, engenheiros e paleontólogos, Weisman mostra que pouca coisa resistiria à ação do tempo e das forças da natureza, e revela como nosso “lixo tecnológico” continuará envenenando o meio ambiente nos milhões de anos vindouros.

Com uma narrativa recheada por pesquisas de campo, Weissman explica como nossa imensa infra-estrutura irá entrar em colapso e, finalmente, desaparecer juntamente com qualquer vestígio de nossa presença no planeta; como nossos artefatos do dia a dia se transformarão em fósseis; como canos e fios de cobre serão transformados em veios minerais; porque algumas de nossas construções poderão ser os últimos vestígios de arquitetura e como o plástico, as esculturas de bronze, as ondas de rádio e algumas moléculas criadas pelo homem poderão ser os últimos sinais de nossa presença no universo.

Em “O mundo sem nós”, descobrimos como as selvas de asfalto serão substituídas por selvas verdes em meios às cidades em ruínas; como as fazendas tratadas de forma orgânica ou química irão se transformar em áreas selvagens; como bilhões de pássaros surgirão e baratas sucumbirão sem nossa presença. Em lugares esquecidos ou abandonados pelos humanos (como um pequeno fragmento das florestas primevas da Europa, uma zona desmilitarizada entre as Coréias e Chernobyl), Weisman revela a tremenda capacidade de recuperação de nosso planeta.

Sem a presença humana, em dois dias o metrô de Nova Iorque seria inundado devido à paralisação do bombeamento de água. Sete dias depois, a reserva de emergência dos geradores a diesel que mantém em funcionamento o resfriamento de usinas nucleares chegaria ao fim. Passado um ano, um bilhão de pássaros deixaria de ser abatidos quando as luzes de sinalização das torres de rádio e comunicação apagassem e parassem de interferir em seu sistema de orientação. Dez anos depois de o homem desaparecer, o teto de celeiro com um buraco de meio metro quadrado, que já estava vazando na década anterior, já teria desaparecido há tempos. Passados cem anos, populações de pequenos predadores, guaxinins, doninhas e raposas diminuiriam graças à competição com um legado humano: s imensamente bem-sucedidos e ferozes gatos domésticos. Em mais 200 anos, as grandes pontes teriam desabado e barragens em todo o mundo destruídas. Cidades localizadas na foz de rios teriam sido destroçadas. Depois de alguns milhares de anos, qualquer parede de pedra que ainda estivesse de pé no hemisfério norte finalmente cederia ao frio.

Seriam necessários 35 mil anos para que o chumbo depositado durante a “era das chaminés” finalmente fosse removido do solo (para o cadmium serão necessários 75 mil anos). Pelo menos 100 mil anos depois da Terra ter se livrado de nós, o gás carbônico (CO2) terá voltado a níveis pré-humanos. O plástico, que tão orgulhosamente ostentamos em embalagens e produtos de todos os gêneros, precisará de pelo menos 100 mil anos para ser devorado por micróbios. Milhões de anos terão se passado antes de nossa presença física ter sido totalmente apagada. Esculturas de bronze ainda serão reconhecíveis em 10,2 milhões de anos. Ainda assim a vida na terra continuará em formas que jamais sonhamos pelos próximos bilhões de anos, até que nosso pequeno planeta seja queimado por um sol agonizante que, ao se expandir, englobará os planetas que o circundam (o que deve ocorrer daqui há cerca de cinco bilhões de anos). Ainda assim, o legado humano permanecerá para sempre em nossos programas de rádio e TV, cujas ondas, fragmentadas, ainda estarão viajando pelo universo.

O mundo sem nós

1 dia Combustível fóssil continuará alimentando usinas (em sua maior parte, automatizadas) por algumas horas. Também em algumas horas, a energia elétrica começará a entrar em colapso. Praticamente todas as usinas dependentes de combustível fóssil irão desligar.
2 dias Após 48 horas, os reatores de usinas nucleares entrarão em modo de segurança automaticamente. Turbinas de todos os tipos começarão a falhas devido a falta de lubrificação. Apenas áreas dotadas de energia provida por hidrelétricas ou energia solar contarão com eletricidade.
3 dias Metrôs que precisam operar com sistemas de bombeamento de água estariam inundados em menos de 36 horas.
10 dias Comida começaria a apodrecer nas prateleiras de supermercados e nos refrigeradores. Enquanto houver água derretida proveniente de refrigeradores e comida deixada à vista, os animais de estimação permanecerão nas proximidades de suas casas. Logo, no entanto, eles terão de procurar alimento em outros lugares. Àqueles que conseguirem sair de casa irão competir pela sobrevivência. Cães e gatos criados por meio de manipulação genética não encontrarão um nicho neste competitivo ambiente e estarão entre os primeiros a perecer. Por exemplo, as pernas curtas e boca pequena de bulldogs e terriers serão problemas para estas raças. Animais aprisionados em zoológicos morrerão de fome e sede.
6 meses Pequenas formas de vida selvagem não vistas com freqüência em meio à civilização – coiotes, gatos selvagens, lobos, veados etc – começarão a habitar os subúrbios das cidades. Os ratos já terão consumido nossos suprimentos estocados e começarão a deixar as áreas urbanas rumo às áreas selvagens.
1 ano Plantas começarão a brotar em meio a rachaduras no asfalto de estradas, ruas, passeios e construções. As últimas áreas com eletricidade cederão espaço a escuridão.
Barragens começarão a transbordar e se romper. Incêndios causados por raios terão destruído grandes áreas urbanas e selvagens. Várias espécies de animais terão avançado sobre as cidades.
5 anos A flora terá coberto a maioria das áreas urbanas com grama e árvores. Estradas serão cobertas por vegetação e, devido a falta de manutenção, desaparecerão.
20 anos As ruínas de Prypiat, na Ucrânia, abandonadas em 1986 após o desastre de Chernobyl, têm sido usadas como exemplo para demonstrar a decadência de áreas urbanas abandonadas após 20 anos sem a presença humana. Apesar dos altos níveis de radiação, muitas populações de animais, além de uma vasta flora, têm florescido nestas áreas.
25 anos O mar terá avançado sobre algumas áreas urbanas como Londres e Amsterdã, que são mantidas secas graças à engenharia. Janelas em prédios altos terão sido destruídas devido ao ciclo de frio e calor e devido à falta de manutenção nos seladores. Devido à falta de ajustes, satélites começarão a cair de volta à Terra.
40 anos Muitas construções de madeira terão se incendiado, apodrecido, ou consumidas por cupins. Árvores e vinhas terão se infiltrado e crescido em meio ao que restasse das construções de alvenaria, já bastante enfraquecidas pela ação dos elementos.
50 anos Estruturas de metal começarão a mostrar sinais de negligência. A pintura, que normalmente protege estas estruturas, já não existirá, expondo o metal aos elementos e permitindo a corrosão.
75 anos Muitos dos 600 milhões de automóveis que se espalham pelo globo terão sido reduzidos a escombros irreconhecíveis. Alguns veículos localizados em áreas de clima mais ceco não terão sofrido o efeito da corrosão de forma tão flagrante e ainda serão reconhecíveis.
100 anos Grandes pontes terão desabado devido à corrosão dos cabos de suporte. Muitas estruturas construídas pelo homem terão desabado em um período de 100 a 10 mil anos.
150 anos Muitas estradas e metrôs começarão a desabar sobre túneis inundados. Edifícios terão sido totalmente tomados por plantas, criando uma paisagem selvagem em um ecossistema vertical. Descendentes dos cães domésticos terão cruzado com lobos.
200 anos Grandes estruturas como o Empire State Building e a Torre Eifel terão desabado devido à ação da corrosão, das plantas e da água que terá desestabilizado suas fundações. Todos os livros e vídeos terão desaparecido sob a força do mofo.
500 anos Itens feitos com concreto começarão a ruir devido à expansão das barras de ferro que os reforçam.
1000 anos A maioria das cidades modernas terão sido destruídas e/ou cobertas pelas florestas. Os amontoados de escombros se transformarão em montanhas e colinas. Rios voltarão as suas margens originais. Haverá poucas evidências de que uma civilização humana tenha existido a Terra. Certas estruturas feitas de tijolos de pedra ou concreto, como as Pirâmides do Egito ainda estarão de pé com danos mínimos.
10.000 anos As construções de concreto cederão devido à erosão e aos efeitos cumulativos da ação sísmica.
Neste período, qualquer evidência substancial da humanidade terá desaparecido. Apenas algumas coisas ainda permanecerão, como os pedestais de granito ou concreto sólidos da Estátua da Liberdade. As Pirâmides de Gizé ainda estarão de pé, embora bastante enterradas na areia do deserto. Porções do Grande Muro da China também permanecerão visíveis. As faces do Monte Rushmore ainda estarão reconhecíveis por centenas de milhares de anos. Nossos ossos, escombros, plástico e poliestireno (isopores) poderão ser os últimos sinais da humanidade.

Alan Weisman é autor de cinco livros, incluindo “O mundo sem nós”. Seu trabalho já apareceu na Harpers, New York Times Magazine, Los Angeles Times Magazine, Discover, Atlantic Monthly, Condé Nast Traveler, Orion e Mother Jones. Weisman tem um programa na National Public Radio e na Public Radio International e é produtor sênior da Homelands Productions, organização jornalística que produz séries independentes de documentários para a rádio pública. Ele leciona jornalismo internacional na University of Arizona.

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A DIFICULDADE DE MUDAR

denis_russo_homeDenis Russo Burgierman
Seres humanos têm um defeito crônico: a dificuldade patológica de mudar as coisas quando se está confortável. Bom, não estamos mais confortáveis. A economia mundial está atolada num pântano, está todo mundo bravo e insatisfeito. O aquecimento global está zumbindo no nosso ouvido feito pernilongo. Tenho ouvido até das pessoas menos engajadas que conheço discursos enfezados e idealistas. Tenho sentido nas ruas um clima de urgência, um desejo de mudança, uma massa crítica se formando. Sob risco de ser acusado de ingenuidade, declaro: o mundo vai mudar. Vai mudar muito, e assustadoramente rápido. Se você pudesse dar uma espiada no Planeta Terra de 2019, não iria reconhecer seu planeta. Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/denis-russo/

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É URGENTE REVER OS FUNDAMENTOS

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Por Leonardo Boff

A conjugação das várias crises, algumas conjunturais e outras sistêmicas, obriga a todos a trabalhar em duas frentes: uma intrasistêmica buscando soluções imediatas dos problemas para salvar vidas, garantir o trabalho e a produção e evitar o colapso. Outra transsistêmica, fazendo uma crítica rigorosa aos fundamentos teóricos que nos levaram ao atual caos e trabalhar sobre outros fundamentos que propiciem uma alternativa que permita, num outro nivel, a continuidade do projeto planetário humano.

Cada época histórica precisa de um mito que congregue pessoas, galvanize forças e confira novo rumo à história. O mito fundador da modernidade reside na razão, desde os gregos, o eixo estruturador da sociedade. Ela cria a ciência, transforma-a em técnica de intervenção na natureza e se propõe dominar todas as suas forças. Para isso, segundo Francis Bacon, o fundador de método científico, deve-se torturar a natureza até que entregue todos os seus segredos. Essa razão crê num progresso ilimitado e cria uma sociedade que se quer autônoma, de ordem e progresso. A razão suscitava a pretensão de tudo prever, tudo gerir, tudo controlar, tudo organizar e tudo criar. Ela ocupou todos os espaços. Enviou ao limbo outras formas de conhecimento.

Eis que, depois de mais de trezentos anos de exaltação da razão, assistimos a loucura da razão. Pois só uma razão enlouquecida organiza a sociedade na qual 20% da população mundial detém 80% de toda riqueza da Terra; as três pessoas mais ricas do mundo possuem ativos superiores à toda riqueza de 48 paises mais pobres onde vivem 600 milhões de pessoas; 257 indivíduos sozinhos acumulam mais riqueza do que 2,8 bilhões de pessoas, o equivalente a 45% da humanidade; no Brasil 5 mil famílias detém 46% da riqueza nacional. A insanidade da razão produtivista e consumista gerou o aquecimento global que trará desiquilíbrios já visíveis e a dizimação de milhares de espécies, inclusive a humana.

A ditadura da razão criou a sociedade da mercadoria com sua cultura típica, um certo modo de viver, de produzir, de consumir, de fazer ciência, de educar, de ensinar e de moldar as subjetividades coletivas. Estas devem se afinar à sua dinâmica e valores, procurando sempre maximalizar os ganhos, mediante a mercantilização de tudo. Ora, essa cultura, dita moderna, capitalista, burguesa, ocidental e hoje globalizada entrou em crise. Ela se expressa nas várias crises atuais que são todas expressão de uma única crise, a dos fundamentos. Não se trata de abdicar da razão, mas de combater sua arrogância (hybris) e de criticar seu estreitamento na capacidade de comprender. O que a razão mais precisa neste momento é de ser urgentemente completada pela razão sensível (M.Maffesoli), pela inteligência emocional (D.Goleman), pela razão cordial (A. Cortina), pela educação dos sentidos (J.F.Duarte Jr), pela ciência com consciência (E. Morin), pela inteligência espiritual (D. Zohar), pelo concern (R.Winnicott) e pelo cuidado como eu mesmo venho propondo há tempos.

É o sentir profundo (pathos) que nos faz escutar o grito da Terra e o clamor canino de milhões de famélicos. Não é a razão fria mas a razão sensível que move as pessoas para tira-las da cruz e faze-las viver. Por isso, é urgente submeter à crítica o modelo de ciência dominante, impugnar radicalmente as aplicações que se fazem dela mais em função do lucro do que da vida, desmascarar o modelo de desenvolvimento atual que é insustentável por ser altamente depredador e injusto.

A sensibilidade, a cordialidade, o cuidado levados a todo os níveis, para com a natureza, nas relações sociais e na vida cotidiana, podem fundar, junto com a razão, uma utopia que podemos tocar com as mãos porque imediatamente praticável. Estes são os fundamentos do nascente paradigma civilizatório que nos dá vida e esperança.

Leonardo Boff/Revista Fórum

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FELIZES COM A CRISE

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Escrito por Danilo Pretti Di Giorgi

Imagine se, como no livro Revolução dos Bichos, de George Orwell, os animais do planeta tivessem senso crítico e opinião, ou, como em Senhor dos Anéis, obra de J. R. R. Tolkien, as árvores fossem capazes de fazer reuniões para decidir o que é melhor para sua floresta. Teríamos hoje a maior parte dos seres vivos do planeta a comemorar as possíveis conseqüências ambientais positivas da crise.

Num cenário recessivo, seriam grandes as chances de redução nas emissões de carbono, no consumo de madeira nativa e na demanda por novas áreas de floresta para criação de gado e plantio de soja. Cairia também o crescimento do consumo de energia elétrica e, assim, arrefeceria a pressão para a construção de novas hidrelétricas em áreas de floresta virgem; até mesmo as linhas de financiamento para obras de grande porte escasseariam. A pesca industrial também seria reduzida, o que daria um respiro para as espécies de peixes marinhos ameaçados de extinção.

Com a queda da produção e do consumo, seria menor a quantidade de mercadorias transportadas entre as cidades e países, com menos caminhões queimando o óleo diesel de quinta qualidade que polui as estradas e cidades brasileiras com seus índices indecentes de emissão de enxofre. Uma recessão faria diminuir o número de celulares (e suas baterias venenosas) sendo jogados no lixo a cada minuto. Com a queda nas vendas de automóveis e demais produtos industrializados que utilizam minério de ferro e outros minerais em sua produção, as reservas desses recursos naturais (que são finitas, não custa relembrar) e a natureza ao redor delas seriam poupadas. Com retração da economia, as pessoas consumiriam menos e cairia a produção de lixo, tornando menos urgente encontrar soluções para a superlotação dos aterros sanitários e dos famigerados lixões.

Há ambientalistas que argumentam que a crise pode de alguma forma ser prejudicial, ao inibir investimentos e decisões governamentais ambientalmente positivas. Os debates travados na reunião de cúpula da União Européia, realizada este mês, reforçam a tese: nove integrantes do bloco, liderados pela Itália de Berlusconi, usaram a crise econômica como razão para colocarem-se contra um plano já acordado meses atrás, que prevê redução em 20% da emissão de gases que provocam o efeito estufa até 2020. Para Berlusconi, “as empresas italianas não estão em condições de arcar com as despesas para atingir essas metas”.

Mas o histórico recente de desrespeito a acordos de emissão de gases mostra que esse caminho não merece ser levado a sério por quem realmente se preocupa com a questão ambiental. O famoso Protocolo de Kyoto, por exemplo, assinado em 1997, morreu de desgosto por ter sido sistematicamente desrespeitado pelos governos signatários – e isso apesar de que suas metas de redução eram consideradas insuficientes para conter os efeitos das emissões.

A provável redução no direcionamento de recursos para conservação é outra preocupação válida. Mas arrisco afirmar que os benefícios da retração na degradação ambiental em caso de recessão superariam em muito eventuais problemas com corte de verbas para projetos de proteção e conservação.

Seja nos próximos meses ou daqui a cinco, 15 ou 100 anos, a derrocada desse sistema econômico é inevitável, uma vez que se baseia em premissas insanas e insustentáveis, como a de que os recursos naturais que o alimentam têm suprimento infinito e que o crescimento econômico constante e ilimitado é possível. Em algum momento, a escassez de recursos em geral, em especial os minerais (muitos com data marcada para acabar, como destacado neste espaço no artigo O preço do índio), será um dos fatores que vão inviabilizar a perpetuação do sistema linear de extração-produção-consumo no qual estamos mergulhados e nos afundando. Mas tenho esperança de que não precisaremos secar as fontes para interromper essa espiral de insanidade.

Apesar de saber que toda a humanidade, incluindo eu, minha família e amigos, sofrerão na pele as duras conseqüências de um mergulho recessivo da economia, tendo a ficar do lado dos bichos e vegetais encantados e torcer para que o remédio amargo seja tomado logo desta vez, e o quanto antes. Porque, dada a velocidade que a destruição assumiu nas últimas décadas, apesar de ainda termos hoje grandes pedaços de floresta relativamente intactos, muitos peixes no mar e alguns rios limpos e livres de represas, corremos o risco de perder tudo isso em poucos anos.

As conseqüências das barbeiragens protagonizadas por homens elegantes que usam gravatas de milhares de dólares mostram que talvez não seja necessário esperar que as geleiras derretam, o sertão vire mar nem a Amazônia transforme-se num deserto para que o caos se instale entre nós. Melhor que ele venha logo enquanto ainda temos grande parte da biodiversidade do mundo intacta. E tomara que aprendamos alguma coisa de útil com sua chegada.
Danilo Pretti Di Giorgi é jornalista.
Fonte: Correio da Cidadania.

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UM POUCO DE SILÊNCIO

Lya Luft, do livro Pensar é transgredir.

Nesta trepidante cultura nossa, da agitação e do barulho, gostar de sossego é uma excentricidade.

Sob a pressão do ter de parecer, ter de participar, ter de adquirir, ter de qualquer coisa, assumimos uma infinidade de obrigações. Muitas desnecessárias, outras impossíveis, algumas que não combinam conosco nem nos interessam.

Não há perdão nem anistia para os que ficam de fora da ciranda: os que não se submetem mas questionam, os que pagam o preço de sua relativa autonomia, os que não se deixam escravizar, pelo menos sem alguma resistência.

O normal é ser atualizado, produtivo e bem-informado. É indispensável circular, estar enturmado. Quem não corre com a manada praticamente nem existe, se não se cuidar botam numa jaula: um animal estranho.

Acuados pelo relógio, pelos compromissos, pela opinião alheia, disparamos sem rumo – ou em trilhas determinadas – feito hâmsteres que se alimentam de sua própria agitação.

Ficar sossegado é perigoso: pode parecer doença. Recolher-se em casa ou dentro de si mesmo, ameaça quem leva um susto cada vez que examina sua alma.

Estar sozinho é considerado humilhante, sinal de que não se arrumou ninguém – como se amizade ou amor se “arrumasse” em loja. Com relação a homem pode até ser libertário: enfim só, ninguém pendurado nele controlando, cobrando, chateando. Enfim, livre!

Mulher, não. Se está só, em nossa mente preconceituosa é sempre porque está abandonada: ninguém a quer.

Além do desgosto pela solidão, temos horror à quietude. Logo pensamos em depressão: quem sabe terapia e antidepressivo? Criança que não brinca ou salta nem participa de atividades frenéticas está com algum problema.

O silêncio nos assusta por retumbar no vazio dentro de nós. Quando nada se move nem faz barulho, notamos as frestas pelas quais nos espiam coisas incômodas e mal resolvidas, ou se enxerga outro ângulo de nós mesmos. Nos damos conta de que não somos apenas figurinhas atarantadas correndo entre casa, trabalho e bar, praia ou campo.

Existe em nós, geralmente nem percebido e nada valorizado, algo além desse que paga contas, transa, ganha dinheiro, e come, envelhece, e um dia (mas isso é só para os outros!) vai morrer. Quem é esse que afinal sou eu? Quais seus desejos e medos, seus projetos e sonhos?

No susto que essa idéia provoca, queremos ruído, ruídos. Chegamos em casa e ligamos a televisão antes de largar a bolsa ou pasta. Não é para assistir a um programa: é pela distração.

Silêncio faz pensar, remexe águas paradas, trazendo à tona sabe Deus que desconserto nosso. Com medo de ver quem – ou o que – somos, adia-se o defrontamento com nossa alma sem máscaras.

Mas, se a gente aprende a gostar um pouco de sossego, descobre – em si e no outro – regiões nem imaginadas, questões fascinantes e não necessariamente ruins.

Nunca esqueci a experiência de quando alguém botou a mão no meu ombro de criança e disse:

– Fica quietinha, um momento só, escuta a chuva chegando.

E ela chegou: intensa e lenta, tornando tudo singularmente novo. A quietude pode ser como essa chuva: nela a gente se refaz para voltar mais inteiro ao convívio, às tantas frases, às tarefas, aos amores.

Então, por favor, me dêem isso: um pouco de silêncio bom para que eu escute o vento nas folhas, a chuva nas lajes, e tudo o que fala muito além das palavras de todos os textos e da música de todos os sentimentos.

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A BOLHA COLETIVA DE MICHAEL JACKSON

Fabrício Carpinejar

Esqueci de contar quantas vezes ralei o joelho descendo ladeira de bicicleta ou jogando futebol ou brincando de Flash Gordon entre materiais de construção. Recordo claramente que levei 35 pontos na cabeça, resultado de cinco quedas. Os atendentes do pronto-socorro já me recebiam pelo nome. Escorregava em ladrilhos, batia a testa em quinas no pega-pega, lançava o corpo na corda do varal esperando atingir o outro lado… Fui uma peste, misto de azarado e distraído.

Apesar dos acidentes, minha mãe não me colocava de castigo. Não me proibia a infância. Orientava apenas que tomasse cuidado. Não era nem intolerante, muito menos condescendente. Um gesto que traduzo como firmeza de carinho.

Diverso da minha criação, meu filho de seis anos ainda não correu atrás de um galo, não duvido que fuja de um pavão, é desconfiado com os cachorros, pedirá licença para subir no telhado, não promoverá guerra de frutas, tampouco arremessará bexiguinha nos passantes, que voltarão menos irritados para suas casas. Está preso a um apartamento e a um entendimento virtual do que existe e do que não existe. Conhece a natureza por ouvir falar, por ler, por assistir, por espiar de longe no zoológico, com as muradas de proteção.

Ele mal reclama um ai, que estou o amparando. Não o permito chorar. Não o deixo penar. Quero substituí-lo para que não sofra nenhum arranhão. Sou seu dublê emocional. É amor, eu sei, entretanto, um amor que não permite que cresça sem mim. Não o ajudo a criar resistência. Uma intimidade que o fragiliza, que não o inspira a responder por sua conta e se responsabilizar pela pergunta. Tenho que estar perto, não no lugar dele.

O protecionismo gera crianças sem anticorpos sociais. Sem reação. Teoricamente preparadas para preservar o ambiente, tecnicamente incapazes de discernir o que é necessário ou não, o que comove ou não, o que é bom ou ruim. O que adianta uma pele sem cicatrizes numa alma apavorada?

Meu filho não pode tomar banho de chuva porque irá se gripar. Mas é na chuva que provará o milagre da água. Meu filho não pode se sujar numa festa de aniversário porque estragará sua roupa nova. Mas é na lama que alcançará a cumplicidade da aventura. Meu filho não poderá mexer no fogão porque é certo que vai se queimar (quando eu cozinhava desde os dez anos para ajudar a mãe no serviço). Meu filho terá que ir a um psicólogo para resolver sua falta de concentração na escola. Os pais usam os filhos para cumprirem seus tratamentos por tabela.

Como propor um cuidado com as árvores se não explico o que é uma pitangueira, um flamboyant, uma figueira? Como se aproximar dos passarinhos se não nomeio um pardal ou um sabiá? Como ensinar ecologia aos filhos transmitindo o medo do contato, o medo do convívio? Medo de experimentar. Medo de machucar e sarar, de dar a volta por cima.

Isolamos os pequenos dos perigos para que eles não corram riscos nenhum. Coletivizamos a bolha do Michael Jackson. Sem o mínimo de vulnerabilidade, não descobrem seus próprios limites. Acham tudo possível. Prevenindo o pior, eliminamos o que há de mais notável na vida: a espontaneidade. A possibilidade terapêutica de simplesmente dizer diante de uma ferida que “não foi nada”, e soprar um arranhão.

Publicado na minha coluna “Primeiras Intenções”
Revista Crescer, São Paulo, Número 178, Setembro de 2008 – Fonte: http://www.fabriciocarpinejar.blogger.com.br

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Dia de Corpus Christi: eucaristia ou sacro canibalismo simbólico?

Quando era pequeno, antes de fazer a primeira comunhão, sim meus amigos eu fiz, imaginava que a hóstia teria gosto de carne, por essa razão excitei muito em fazer a catequese, pois comer parte do corpo de alguém, no caso o próprio Cristo, não era muito convidativo. Assim, neste feriado Corpus Christi, escreve esse curupira de montanha, ex-canibal simbólico e atualmente fazendo de tudo para deixar de ser carnívoro.

É claro que o tema da eucaristia, que os católicos celebram hoje, já foi muito glosado como sendo uma forma de canibalismo simbólico. Convém dizer que, de um ponto de vista antropológico, todo o canibalismo é simbólico, quer se ingira carne ou algo que a represente. O que importa é a noção de comunhão, de absorção das qualidades daquele(a) que se ingere e que passa a ser parte de quem ingere: uma divindade, um antepassado, algo que é normalmente tabu e só deixa de ser em circunstâncias cerimoniais específicas, representantes de grupos rivais, etc. Muitos protestantes apodaram a eucaristia de canibalismo. Os católicos dizem que não é tal coisa. Tanto uns como outros debatem este assunto porque a noção de “canibalismo” ganhou, na sua cultura comum (a Ocidental), o significado de coisa própria de bárbaros e selvagens – todos aqueles primitivos que precisavam ser evangelizados. Isto é, que precisavam abandonar a sua forma de canibalismo.

Para saber mais, há um número da Annual Review of Anthropology dedicado ao canibalismo.

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Rompendo Paradigmas – parte 1.

“E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo réptil que se move sobre a terra. E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou. E Deus os abençoou e Deus lhes disse: Frutificai, e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra”. Gênesis (1:26 a 28).

“Os animais do mundo existem para os seus próprios propósitos. Não foram feitos para os seres humanos, do mesmo modo que os negros não foram feitos para os brancos, nem as mulheres para os homens.” Alice Walker

De todas as criaturas que existiram, o homem é a mais moderna, ocupando um exíguo espaço de tempo na linha da evolução das espécies. E nesse curto espaço de tempo conseguiu causar tantos estragos que mais parece um vírus que infectou o planeta. E para um vírus só há duas saídas, ou destrói o hospedeiro e morre junto com ele, ou acaba sendo eliminado pelo sistema imunológico deste hospedeiro. É assim que funciona, não há outra saída. A menos que esse vírus resolva mudar seu destino e transformar-se em um ser simbionte, e assim coexistir em harmonia com o planeta como fizeram todas as criaturas que viveram ao longo da existência da vida na Terra.
Gardel Silveira, curupira de montanha.

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Para ler e refletir.

Texto copiado do blog do Luis Carlos Azenha (www.viomundo.com.br) – Atualizado em 07 de maio de 2008 às 15:54 | Publicado em 07 de maio de 2008 às 15:45 – De: Ney Gastal (jornalista ambientalista) Para: Amyra El Khalili (ambientalista)

Amyra e a quem mais interessar.

Com o fastio e o pessimismo de quem há anos escreve textos neste tom, quero apenas acrescentar um comentário:

Não creio que haja solução.

Mais.

Não creio que haja porque haver solução.

Todas as espécies tem seu tempo.

Os dinossauros sobreviveram em paz com a terra por milhões de anos.

O homem preferiu domá-la, transformá-la, subordiná-la, destruí-la.

Foi a mais forte espécie que já passou pelo planeta – até onde se saiba – e fez uso desta força para envenenar tudo.

Vai ser uma das mais rapidamente extintas (e levando outras de roldão) que já passou pelo planeta.

É lógico o processo do planeta – de Gaia, se quiserem – para se desintoxicar.

A febre existe para combater agressões ao nosso corpo.

O planeta está com febre (e não me refiro necessariamente ao aquecimento global) para nos combater.

Porque luta para sobreviver e poder continuar abrigando formas de vida menos agressivas.

E nós o agredimos.

Em meus momentos mais otimistas, também gosto de imaginar soluções.

Mas elas não passam por ajustes e sim por uma mudança conceitual tão grande que me parece impossível.

Acreditei muito no conceito das ONGs enquanto elas eram exatamente isto, ONGs.

Organizações Não Governamentais.

Infelizmente, ao mesmo tempo que algumas poucas tentaram mudar as coisas através da mudança de mentalidades, outras tantas aderiram ao “projetismo”.

É projeto pra cá, é projeto pra lá, e projeto, se sabe, precisa de financiamento.

Então começou a rolar dinheiro, primeiro de grandes empresas “conscientizadas”, depois dos grandes governos e por fim de todo mundo.

No Brasil chegou-se a cúmulo de criar as tais OSCIPs, que em última instância são um jeito do governo privatizar tudo o que dá trabalho.

Em um país “oscipizado”, o governo se livra das áreas de cultura, meio-ambiente, destas “frescuras”, e as repassa à sociedade.

Se exime. Lava as mãos. Cai fora.

E os idealistas da sociedade (geralmente os mais moços, como sempre) alegremente acreditam que isto é um avanço e botam mãos à obra.

Pouco tempo depois ou estão desiludidos ou foram cooptados.

E a conseqüência disto é que as OSCIPs serão a ponte para a privatização das coisas que mais caracterizam uma nação enquanto tal:

O meio ambiente onde ela existe e sua cultura.

Duas coisas que devem ser de obrigação do Estado cuidar e proteger, e que estão sendo lentamente privatizadas.

Sou presidente de uma ONG que ano que vem vai fazer 20 anos e que já foi muito ativa.

NUNCA pedimos nem aceitamos um único centavo de qualquer governo, mesmo quando oferecido.

NUNCA. Um único.

Trabalhamos muito tempo na área de unidades de conservação, mas NUNCA pretendemos substituir, complementar ou fazer parte dos órgãos oficiais.

Nos limitamos a auxiliar sua atividade no que fosse possível, sempre subordinados aos administradores locais.

Brigando quando necessário, é claro, mas geralmente em brigas que reforçavam as chefias locais contra as burrocracias centrais.

Cansamos.

E, aos poucos, fomos percebendo que quando um assunto é comandado à distância por gente, concursada ou não, que não conhece a realidade, o fracasso é inevitável.

O Brasil e o mundo, atualmente, são governados e manipulados a partir de centros de poder que desconhecem ou, pior, querem ignorar a realidade.

Os interesses das capitais e/ou matrizes do poder estão completamente dissociados dos interesses das pessoas que fazem a sociedade.

Mas mesmo estas, em grande parte, querem mesmo é participar dos confortos do poder.

Por isso acontece o que se vê, quando alguém “chega lá”: sucumbe.

Se adapta.

Se ajusta.

Cala.

Mas o planeta não quer nem saber.

Por isso, o caminho do fim (deste ciclo de vida, da dominação humana, sei lá de que) me parece inevitável.

Esta história de que o “social” deve prevalecer ao individual é puro blefe.

O individualismo altruísta seria o único caminho pelo qual a Humanidade poderia ser salvo.

Um tipo de individualismo onde as pessoas não se importariam nem tanto consigo próprias, nem tanto com o “social”.

Um tipo de individualismo onde todos se preocupariam com os outros indivíduos enquanto tal, e não como massa.

Um jeito de viver onde todos tivessem rosto, personalidade.

Onde o menininho que pede esmolas na sinaleira mereceria, sim, ajuda de cada um de nós e não que fosse deixado a cargo do governo porque é um “problema social”.

Não existe problema social.

Existem problemas individuais, de milhões de pessoas, de bilhões de indivíduos.

Quem se preocupa com indivíduos pode, sim, vir a mudar de atitude frente a tudo.

Quem só se precupa com o “social”, com a “coletividade”, com os “consumidores” ou os “eleitores”, não vê pessoas nestes grupos, só massa de manobra.

E estes – que formam a grande maioria – não estão nem aí para o que está acontecendo ao planeta.

Porque vivem apenas para o presente, para o poder, para o lucro, para si em nome de todos.

É isto que está nos conduzindo ao fim.

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HOMO SAPIEN DEMENS

O homem moderno, a mais brilhante das criaturas se diferencia dos outros animais pelo orgulhoso e multifuncional polegar opositor. É também conhecido no meio acadêmico como Homo sapien sapiens. Perceberam o termo sapien sapiens repetido duas vezes?  Isso é para lembrar que somos duplamente sábios. Coitados… são apenas macacos. Macacos cujos cérebros evoluíram para um tamanho tão ingovernável que agora é impossível para eles ficarem felizes por muito tempo. Na verdade, eles são os únicos animais que pensam que deveriam ser felizes. Todos os outros animais podem simplesmente ser.

E para atingir esta felicidade vale tudo, Prozac, álcool, dinheiro, roupas de marcas famosas, jóias, religiões dogmáticas… mas são apenas macacos que deixaram de ser macacos felizes e tornaram-se Homo sapien demens e muito infelizes.

Gardel, curupira do sítio.

Aqui vai dois vídeos que ajudam a ilustrar um pouco o texto acima.

Dancem macacos, dancem: um divertido filme que faz uma análise da raça humana.

Ilha das Flores (parte 01): um ácido e divertido retrato da mecânica da sociedade de consumo. Acompanhando a trajetória de um simples tomate, desde a plantação até ser jogado fora, o curta escancara o processo de geração de riqueza e as desigualdades que surgem no meio do caminho. Documentário de Jorge Furtado.

Ilha das Flores (parte 02)

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Rompendo Paradigmas – parte 2.

(Recebi este texto de José Vítor, um velho e sábio amigo).

Laura Schlessinger, nascida no Brooklyn, em Nova York, é uma das radialistas mais populares dos Estados Unidos. O seu programa de rádio, de aconselhamento sobre problemas individuais e familiares, tem uma audiência diária de 20 milhões de ouvintes. O sucesso no rádio levou-a também ao sucesso na literatura. Seus livros vendem milhões de exemplares. Num de seus programas um ouvinte indagou-lhe sobre a questão da homossexualidade, e ela sem hesitar respondeu que era uma abominação, pois assim a Bíblia o afirma no livro de Levítico 18:22.
Um outro ouvinte escreveu-lhe então, uma carta que ora transcrevo:

“Querida Dra. Laura: Muito obrigado por se esforçar tanto para educar as pessoas segunda a Lei de Deus. Eu mesmo tenho aprendido muito no seu programa de rádio e desejo compartilhar meus conhecimentos com o maior número de pessoas possível. Por exemplo, quando alguém se põe a defender o estilo homossexual de vida eu me limito a lembrar-lhe que o livro de Levítico, no capítulo 18, verso 22, estabelece claramente que a homossexualidade é uma abominação. E ponto final. Mas, de qualquer forma, necessito de alguns conselhos adicionais de sua parte a respeito de outras leis bíblicas concretamente e sobre a forma de cumpri-las:

A) Gostaria de vender minha filha como escrava, tal como o indica o livro de Êxodo, 21:7. Nos tempos em que vivemos, na sua opinião, qual seria o preço adequado?

B) O livro do Levítico, 25:44, estabelece que posso possuir escravos, tanto homens quanto mulheres, desde que sejam adquiridos de países vizinhos. Um amigo afirma que isso só se aplica aos mexicanos, mas não aos canadenses. Será que a senhora poderia esclarecer esse ponto? Porque não posso possuir escravos canadenses?

C) Sei que não estou autorizado a ter qualquer contato com mulher alguma no seu período de impureza menstrual (Levícito 18:19, 20:18, etc.). O problema que se coloca é o seguinte: como posso saber se as mulheres estão menstruadas ou não? Tenho tentado perguntar-lhes, mas muitas mulheres são tímidas e outras se sentem ofendidas.

D) Tenho um vizinho que insiste em trabalhar no sábado. O livro de Êxodo, 35:2, claramente estabelece que quem trabalha aos sábados deve receber a pena de morte. Isso quer dizer que eu, pessoalmente sou obrigado a matá-lo? Será que a senhora poderia, de alguma maneira, aliviar-me dessa obrigação aborrecida?

E) No livro do Levítico, 21:18 – 21, está estabelecido que uma pessoa não pode se aproximar de Deus se tiver algum defeito na vista. Preciso confessar que eu preciso de óculos para ver. Minha acuidade visual tem de ser 100% para que eu me aproxime do altar de Deus? Será que se pode abrandar um pouco essa exigência?

F) A maioria dos meus amigos homens tem o cabelo bem cortado, muito embora isto esteja claramente proibido no Levítico, 19:27. Como é que eles devem morrer?

G) Eu sei, graças ao Levítico, 11:6-8. que quem tocar a pele de um porco morto fica impuro. Acontece que eu jogo futebol americano, cujas bolas são feitas com pele de porco. Será que me será permitido continuar a jogar futebol americano se eu usar luvas?

H) Meu tio tem uma granja. Ele deixa de cumprir o que diz o Levítico 19:19. pois planta dois tipos diferentes de sementes no mesmo campo e também deixa de cumprir no que diz respeito à sua mulher, que usa roupas de dois tecidos diferentes, a saber, algodão e poliéster. Além disso, ele passa o dia proferindo blasfêmias e se maldizendo. Será que é necessário levar a cabo o complicado procedimento de reunir todas as pessoas da vila para apedrejá-lo? Não poderíamos adotar um procedimento mais simples, qual seja, o de queimá-lo numa reunião privada, como se faz com um homem que dorme com a sua sogra, ou uma mulher que dorme com o seu sogro (Levítico 20:14)?

Sei que a senhora estudou estes assuntos com grande profundidade de forma que confio plenamente na sua ajuda. Obrigado novamente por recordar-nos que a palavra de Deus é eterna e imutável.”
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Mandem comentários ou textos que acharem apropriados para a página. Só não publicarei textos que forem escritos na linguagem de abreviaturas (MSNês) que costuma rolar na internet. Por favor, escrevam em português compreensível. Obrigado!

5 pensamentos sobre “Chá Filosófico

  1. Porque estes textos publicados por você, não têm um único comentário? Será que as pessoas estão mais preocupadas com o chá de cerveja?
    Os textos são excelentes e todos abordam a questão da nossa sobrevivência, tal qual eu entendo que deve ser colocada, mas, para além disso coloca em causa a nossa organização social,… totalmente de acordo que somos roubados todos os dias com a sociedade organizada deste jeito ( sistema capittalista ).
    Será que um dia vamos abrir os olhos? Vou perdendo a fé…..
    Cumpriemntos
    Fernando Gama

    • Olá Fernanda, desculpe a demora na resposta, pois sua questão realmente me fez pensar além do normal. É intrigante perceber que um site com mais de 700.000 acessos e centenas de comentários, nenhum seja destinado aos textos da página “Chá Filosófico”. Esta página foi criada para tornar público os vários textos de e-mail que recebia de amigos e conhecidos. São texto que fazem a gente pensar, questionar e rever nossos valores. Talvez esteja ai o problema, as pessoas, na sua grande maioria, não gostam de ler, muito menos pensar, rever valores então… A grande maioria comporta-se como o “Sapo da Água Quente”. Como diria Denis Russo: “Seres humanos têm um defeito crônico: a dificuldade patológica de mudar as coisas quando se está confortável.”
      Felizmente não estamos sós nesta caminhada evolutiva, muito obrigado por sua observação.
      Att. Gardel Silveira.

  2. descobri agora este blog e vou segui-lo. faço agricultura ecologica em Portugal. As vezes tenho a sensação que estamos apenas a falaruns para os outros…sem outros a pensar, a ouvir, a dizer.
    Ealém dissonão sou fatalista. tenho em mim que havremos de resolver esta grande confusão.
    um abraço

  3. Rompendo paradigmas parte 2 é ótimo! Me diverti muito ! é muito engraçado ! Todos deveriam ler ! O mundo está cheio de teorias ! Na prática é muito complicado mesmo. O que aconteceria se a Dra. Laura tivesse em sua própria família um filho ou neto homossexual?!
    O Chá filosófico tem muito conteúdo ! Deveria ser lido por todos: pais, professores, estudantes…
    Já ouvimos muito sobre tudo o que foi exposto acima, mas não com tanta riqueza de detalhes e de forma tão clara e de fácil memorização para que possamos comentar com todos que convivemos para um trabalho de conscientização!

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