A Carta da Terra

A Carta da Terra é uma declaração de princípios éticos fundamentais para a construção, no século XXI, de uma sociedade global justa, sustentável e pacífica. Busca inspirar todos os povos a um novo sentido de interdependência global e responsabilidade compartilhada, voltado para o bem-estar de toda a família humana, da grande comunidade da vida e das futuras gerações. É uma visão de esperança e um chamado à ação. Oferece um novo marco, inclusivo e integralmente ético para guiar a transição para um futuro sustentável.

Ela reconhece que os objetivos de proteção ecológica, erradicação da pobreza, desenvolvimento econômico equitativo, respeito aos direitos humanos, democracia e paz são interdependentes e indivisíveis. O documento é resultado de uma década de diálogo intercultural, em torno de objetivos comuns e valores compartilhados. O projeto começou como uma iniciativa das Nações Unidas, mas se desenvolveu e finalizou como uma iniciativa global da sociedade civil. Em 2000 a Comissão da Carta da Terra, uma entidade internacional independente, concluiu e divulgou o documento como a carta dos povos. 
A redação da Carta da Terra envolveu o mais inclusivo e participativo processo associado à criação de uma declaração internacional. Esse processo é a fonte básica de sua legitimidade como um marco de guia ético. A legitimidade do documento foi fortalecida pela adesão de mais de 4.500 organizações, incluindo vários organismos governamentais e organizações internacionais. Ilustração acima “A Origem do Cosmos, Wishókar” de Gardel Silveira. Fonte: livro “Lendas do Saber – Permacultura e histórias: cuidando da Terra e das pessoas”.  Fonte do texto: http://pt.wikipedia.org/wiki/A_Carta_da_Terra 
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CARTA DA TERRA em vídeo

Parte 1

Parte 2

Parte 3

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CARTA DA TERRA – Versão Integral

Preâmbulo
Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que, nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações.

Terra, Nosso Lar 
A humanidade é parte de um vasto universo em evolução. A Terra, nosso lar, está viva com uma comunidade de vida única. As forças da natureza fazem da existência uma aventura exigente e incerta, mas a Terra providenciou as condições essenciais para a evolução da vida. A capacidade de recuperação da comunidade da vida e o bem-estar da humanidade dependem da preservação de uma biosfera saudável com todos seus sistemas ecológicos, uma rica variedade de plantas e animais, solos férteis, águas puras e ar limpo. O meio ambiente global com seus recursos finitos é uma preocupação comum de todas as pessoas. A proteção da vitalidade, diversidade e beleza da Terra é um dever sagrado. 

A Situação Global 
Os padrões dominantes de produção e consumo estão causando devastação ambiental, redução dos recursos e uma massiva extinção de espécies. Comunidades estão sendo arruinadas. Os benefícios do desenvolvimento não estão sendo divididos eqüitativamente e o fosso entre ricos e pobres está aumentando. A injustiça, a pobreza, a ignorância e os conflitos violentos têm aumentado e é causa de grande sofrimento. O crescimento sem precedentes da população humana tem sobrecarregado os sistemas ecológico e social. As bases da segurança global estão ameaçadas. Essas tendências são perigosas, mas não inevitáveis. 

Desafios Para o Futuro 
A escolha é nossa: formar uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros, ou arriscar a nossa destruição e a da diversidade da vida. São necessárias mudanças fundamentais dos nossos valores, instituições e modos de vida. Devemos entender que quando as necessidades básicas forem atingidas, o desenvolvimento humano é primariamente ser mais, não, ter mais. Temos o conhecimento e a tecnologia necessários para abastecer a todos e reduzir nossos impactos ao meio ambiente. O surgimento de uma sociedade civil global está criando novas oportunidades para construir um mundo democrático e humano. Nossos desafios, ambientais, econômicos, políticos, sociais e espirituais estão interligados, e juntos podemos forjar soluções includentes. 

Responsabilidade Universal 
Para realizar estas aspirações devemos decidir viver com um sentido de responsabilidade universal, identificando-nos com toda a comunidade terrestre bem como com nossa comunidade local. Somos ao mesmo tempo cidadãos de nações diferentes e de um mundo no qual, a dimensão local e global estão ligadas. Cada um comparte responsabilidade pelo presente e pelo futuro, pelo bem estar da família humana e do grande mundo dos seres vivos. O espírito de solidariedade humana e de parentesco com toda a vida é fortalecido quando vivemos com reverência o mistério da existência, com gratidão pelo presente da vida, e com humildade considerando o lugar que ocupa o ser humano na natureza. 
Necessitamos com urgência de uma visão de valores básicos para proporcionar um fundamento ético à emergente comunidade mundial. Portanto, juntos na esperança, afirmamos os seguintes princípios, todos interdependentes, visando um modo de vida sustentável como critério comum, através dos quais a conduta de todos os indivíduos, organizações, empresas de negócios, governos, e instituições transnacionais será guiada e avaliada.  

PRINCÍPIOS 

I. RESPEITAR E CUIDAR DA COMUNIDADE DE VIDA 

1. Respeitar a Terra e a vida em toda sua diversidade.
a.
Reconhecer que todos os seres são interligados e cada forma de vida tem valor, independentemente do uso humano.

b. Afirmar a fé na dignidade inerente de todos os seres humanos e no potencial intelectual, artístico, ético e espiritual da humanidade.

2. Cuidar da comunidade da vida com compreensão, compaixão e amor.
a. Aceitar que com o direito de possuir, administrar e usar os recursos naturais vem o dever de impedir o dano causado ao meio ambiente e de proteger o direito das pessoas.
b. Afirmar que, o aumento da liberdade, dos conhecimentos e do poder comporta responsabilidade na promoção do bem comum.

3. Construir sociedades democráticas que sejam justas, participativas, sustentáveis e pacíficas.
a.
Assegurar que as comunidades em todos níveis garantam os direitos humanos e as liberdades fundamentais e dar a cada a oportunidade de realizar seu pleno potencial.

b. Promover a justiça econômica propiciando a todos a consecução de uma subsistência significativa e segura, que seja ecologicamente responsável.

4. Garantir a generosidade e a beleza da Terra para as atuais e as futuras gerações.
a.
Reconhecer que a liberdade de ação de cada geração é condicionada pelas necessidades das gerações futuras.

b. Transmitir às futuras gerações valores, tradições e instituições que apóiem, a longo termo, a prosperidade das comunidades humanas e ecológicas da Terra.
Para poder cumprir estes quatro extensos compromissos, é necessário: 

II. INTEGRIDADE ECOLÓGICA

5. Proteger e restaurar a integridade dos sistemas ecológicos da Terra, com especial preocupação pela diversidade biológica e pelos processos naturais que sustentam a vida.
a.
Adotar planos e regulações de desenvolvimento sustentável em todos os níveis que façam com que a conservação ambiental e a reabilitação sejam parte integral de todas as iniciativas de desenvolvimento.

b. Estabelecer e proteger as reservas com uma natureza viável e da biosfera, incluindo terras selvagens e áreas marinhas, para proteger os sistemas de sustento à vida da Terra, manter a biodiversidade e preservar nossa herança natural.
c. Promover a recuperação de espécies e ecossistemas em perigo.
d. Controlar e erradicar organismos não-nativos ou modificados geneticamente que causem dano às espécies nativas, ao meio ambiente, e prevenir a introdução desses organismos daninhos.
e. Manejar o uso de recursos renováveis como a água, solo, produtos florestais e a vida marinha com maneiras que não excedam as taxas de regeneração e que protejam a sanidade dos ecossistemas.
f. Manejar a extração e uso de recursos não renováveis como minerais e combustíveis fósseis de forma que diminua a exaustão e não cause sério dano ambiental. 

6. Prevenir o dano ao ambiente como o melhor método de proteção ambiental e quando o conhecimento for limitado, tomar o caminho da prudência.
a.
Orientar ações para evitar a possibilidade de sérios ou irreversíveis danos ambientais mesmo quando a informação científica seja incompleta ou não conclusiva.

b. Impor o ônus da prova àqueles que afirmam que a atividade proposta não causará dano significativo e fazer com que os grupos sejam responsabilizados pelo dano ambiental.
c. Garantir que a decisão a ser tomada se oriente pelas conseqüências humanas globais, cumulativas, de longo termo, indiretas e de longa distância.
d. Impedir a poluição de qualquer parte do meio ambiente e não permitir o aumento de substâncias radioativas, tóxicas ou outras substâncias perigosas.
e. Evitar que atividades militares causem dano ao meio ambiente.

7. Adotar padrões de produção, consumo e reprodução que protejam as capacidades regenerativas da Terra, os direitos humanos e o bem-estar comunitário.
a.
Reduzir, reutilizar e reciclar materiais usados nos sistemas de produção e consumo e garantir que os resíduos possam ser assimilados pelos sistemas ecológicos.

b. Atuar com restrição e eficiência no uso de energia e recorrer cada vez mais aos recursos energéticos renováveis como a energia solar e do vento.
c. Promover o desenvolvimento, a adoção e a transferência eqüitativa de tecnologias ambientais saudáveis.
d. Incluir totalmente os custos ambientais e sociais de bens e serviços no preço de venda e habilitar aos consumidores identificar produtos que satisfaçam as mais altas normas sociais e ambientais.
e. Garantir acesso universal ao cuidado da saúde que fomente a saúde reprodutiva e a reprodução responsável.
f. Adotar estilos de vida que acentuem a qualidade de vida e o suficiente material num mundo finito.

8. Avançar o estudo da sustentabilidade ecológica e promover a troca aberta e uma ampla aplicação do conhecimento adquirido.
a.
Apoiar a cooperação científica e técnica internacional relacionada à sustentabilidade, com especial atenção às necessidades das nações em desenvolvimento.

b. Reconhecer e preservar os conhecimentos tradicionais e a sabedoria espiritual em todas as culturas que contribuem para a proteção ambiental e o bem-estar humano.
c. Garantir que informações de vital importância para a saúde humana e para a proteção ambiental, incluindo informação genética, estejam disponíveis ao domínio público. 

III. JUSTIÇA SOCIAL E ECONÔMICA 

9. Erradicar a pobreza como um imperativo ético, social, econômico e ambiental.
a.
Garantir o direito à água potável, ao ar puro, à segurança alimentar, aos solos não contaminados, ao abrigo e saneamento seguro, distribuindo os recursos nacionais e internacionais requeridos.

b. Prover cada ser humano de educação e recursos para assegurar uma subsistência sustentável, e dar seguro social [médico] e segurança coletiva a todos aqueles que não são capazes de manter-se a si mesmos.
c. Reconhecer ao ignorado, proteger o vulnerável, servir àqueles que sofrem, e permitir-lhes desenvolver suas capacidades e alcançar suas aspirações.

10. Garantir que as atividades econômicas e instituições em todos os níveis promovam o desenvolvimento humano de forma eqüitativa e sustentável.
a.
Promover a distribuição eqüitativa da riqueza dentro e entre nações.

b. Incrementar os recursos intelectuais, financeiros, técnicos e sociais das nações em desenvolvimento e aliviar as dívidas internacionais onerosas.
c. Garantir que todas as transações comerciais apóiem o uso de recursos sustentáveis, a proteção ambiental e normas laborais progressistas.
d. Exigir que corporações multinacionais e organizações financeiras internacionais atuem com transparência em benefício do bem comum e responsabilizá-las pelas conseqüências de suas atividades. 

11. Afirmar a igualdade e a eqüidade de gênero como pré-requisitos para o desenvolvimento sustentável e assegurar o acesso universal à educação, ao cuidado da saúde e às oportunidades econômicas.
a.
Assegurar os direitos humanos das mulheres e das meninas e acabar com toda violência contra elas.

b. Promover a participação ativa das mulheres em todos os aspectos da vida econômica, política, civil, social e cultural como parceiros plenos e paritários, tomadores de decisão, líderes e beneficiários.
c. Fortalecer as famílias e garantir a segurança e a criação amorosa de todos os membros da família.

12. Defender, sem discriminação, os direitos de todas as pessoas a um ambiente natural e social, capaz de assegurar a dignidade humana, a saúde corporal e o bem-estar espiritual, dando especial atenção aos direitos dos povos indígenas e minorias.
a.
Eliminar a discriminação em todas suas formas, como as baseadas na raça, cor, gênero, orientação sexual, religião, idioma e origem nacional, étnica ou social.

b. Afirmar o direito dos povos indígenas à sua espiritualidade, conhecimentos, terras e recursos, assim como às suas práticas relacionadas a formas sustentáveis de vida.
c. Honrar e apoiar os jovens das nossas comunidades, habilitando-os para cumprir seu papel essencial na criação de sociedades sustentáveis.
d. Proteger e restaurar lugares notáveis, de significado cultural e espiritual. 

IV. DEMOCRACIA, NÃO VIOLÊNCIA E PAZ 

13. Fortalecer as instituições democráticas em todos os níveis e proporcionar-lhes transparência e prestação de contas no exercício do governo, a participação inclusiva na tomada de decisões e no acesso à justiça.
a.
Defender o direito a todas as pessoas de receber informação clara e oportuna sobre assuntos ambientais e todos os planos de desenvolvimento e atividades que poderiam afetá-las ou nos quais tivessem interesse.

b. Apoiar sociedades locais, regionais e globais e promover a participação significativa de todos os indivíduos e organizações na toma de decisões.
c. Proteger os direitos à liberdade de opinião, de expressão, de assembléia pacífica, de associação e de oposição [ou discordância].
d. Instituir o acesso efetivo e eficiente a procedimentos administrativos e judiciais independentes, incluindo mediação e retificação dos danos ambientais e da ameaça de tais danos.
e. Eliminar a corrupção em todas as instituições públicas e privadas.
f. Fortalecer as comunidades locais, habilitando-as a cuidar dos seus próprios ambientes e designar responsabilidades ambientais a nível governamental onde possam ser cumpridas mais efetivamente. 

14. Integrar na educação formal e aprendizagem ao longo da vida, os conhecimentos, valores e habilidades necessárias para um modo de vida sustentável.
a.
Oferecer a todos, especialmente a crianças e a jovens, oportunidades educativas que possibilite contribuir ativamente para o desenvolvimento sustentável.

b. Promover a contribuição das artes e humanidades assim como das ciências na educação sustentável.
c. Intensificar o papel dos meios de comunicação de massas no sentido de aumentar a conscientização dos desafios ecológicos e sociais.
d. Reconhecer a importância da educação moral e espiritual para uma subsistência sustentável.

15. Tratar todos os seres vivos com respeito e consideração.
a.
Impedir crueldades aos animais mantidos em sociedades humanas e diminuir seus sofrimentos.

b. Proteger animais selvagens de métodos de caça, armadilhas e pesca que causem sofrimento externo, prolongado o evitável.

16. Promover uma cultura de tolerância, não violência e paz.
a.
Estimular e apoiar o entendimento mútuo, a solidariedade e a cooperação entre todas as pessoas, dentro das e entre as nações.

b. Implementar estratégias amplas para prevenir conflitos violentos e usar a colaboração na resolução de problemas para manejar e resolver conflitos ambientais e outras disputas.
c. Desmilitarizar os sistemas de segurança nacional até chegar ao nível de uma postura não-provocativa da defesa e converter os recursos militares em propósitos pacíficos, incluindo restauração ecológica.
d. Eliminar armas nucleares, biológicas e tóxicas e outras armas de destruição em massa.
e. Assegurar que o uso do espaço orbital e cósmico mantenha a proteção ambiental e a paz.
f. Reconhecer que a paz é a plenitude criada por relações corretas consigo mesmo, com outras pessoas, outras culturas, outras vidas, com a Terra e com a totalidade maior da qual somos parte. 

O CAMINHO ADIANTE

Como nunca antes na história, o destino comum nos conclama a buscar um novo começo. Tal renovação é a promessa dos princípios da Carta da Terra. Para cumprir esta promessa, temos que nos comprometer a adotar e promover os valores e objetivos da Carta. 
Isto requer uma mudança na mente e no coração. Requer um novo sentido de interdependência global e de responsabilidade universal. Devemos desenvolver e aplicar com imaginação a visão de um modo de vida sustentável aos níveis local, nacional, regional e global. Nossa diversidade cultural é uma herança preciosa, e diferentes culturas encontrarão suas próprias e distintas formas de realizar esta visão. Devemos aprofundar e expandir o diálogo global gerado pela Carta da Terra, porque temos muito que aprender a partir da busca iminente e conjunta por verdade e sabedoria. 
A vida muitas vezes envolve tensões entre valores importantes. Isto pode significar escolhas difíceis. Porém, necessitamos encontrar caminhos para harmonizar a diversidade com a unidade, o exercício da liberdade com o bem comum, objetivos de curto prazo com metas de longo prazo. Todo indivíduo, família, organização e comunidade têm um papel vital a desempenhar. As artes, as ciências, as religiões, as instituições educativas, os meios de comunicação, as empresas, as organizações não-governamentais e os governos são todos chamados a oferecer uma liderança criativa. A parceria entre governo, sociedade civil e empresas é essencial para uma governabilidade efetiva. 
Para construir uma comunidade global sustentável, as nações do mundo devem renovar seu compromisso com as Nações Unidas, cumprir com suas obrigações respeitando os acordos internacionais existentes e apoiar a implementação dos princípios da Carta da Terra com um instrumento internacional legalmente unificador quanto ao ambiente e ao desenvolvimento. 
Que o nosso tempo seja lembrado pelo despertar de uma nova reverência face à vida, pelo compromisso firme de alcançar a sustentabilidade, a intensificação da luta pela justiça e pela paz, e a alegre celebração da vida. 

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Mirian Vilela e a Carta da Terra no mundo

A brasileira radicada na Costa Rica, Mirian Vilela, trabalha desde a década de 1990 com a Carta da Terra, uma declaração de princípios éticos e sustentáveis reconhecida pela ONU, por governos, empresas e ONGs nos cinco continentes, e há três anos está à frente do movimento internacional que divulga o documento. Aqui, conta como a Carta está ajudando a melhorar a vida no planeta.

Natália Mello – Edição: Mônica Nunes
Planeta Sustentável – 21/04/2010

Quando o mundo despertou para a sustentabilidade, durante a Rio-92, a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, Mirian Vilela já era expert no assunto. Mestre em Administração Pública pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, ela foi membro da secretaria que, durante dois anos, organizou a histórica conferência realizada no Rio de Janeiro, a primeira de grande magnitude depois da Guerra Fria.

Foi naquela época que surgiu a ideia de escrever uma declaração internacional que funcionasse como uma Constituição do Planeta, com diretrizes para um mundo sustentável que englobassem temas como ecologia, justiça social e econômica, paz e respeito à diversidade. “Mas não houve acordo político para isso naquele momento e a iniciativa foi retomada no ano seguinte, fora da ONU”, conta Mirian, que participou de todo o processo trabalhando na ONG Conselho da Terra, do canadense Maurice Strong, o secretário geral da Rio-92. Até o lançamento da declaração – a Carta da Terra –, no ano 2000, foram anos de consultas e debates envolvendo gente do mundo todo.

Somente em 2006, alguns profissionais ligados à redação do documento fundaram o movimento Carta da Terra Internacional, com sede na Universidade da Paz, mantida pela ONU, na Costa Rica. Mirian Vilela, desde 2007, é a diretora-executiva da organização responsável por disseminar a declaração pelo mundo. Hoje, mais de 90 países nos cinco continentes possuem atividades baseadas na Carta.

Com a autoridade de quem participou ativamente do nascimento e da divulgação do documento, Mirian Vilela comenta a importância da Carta e os projetos que a declaração inspirou, além dos planos para este ano de celebrações.

Como está a consciência das pessoas em relação à sustentabilidade?
Ainda não é satisfatória, pois as pessoas têm consciência do conceito pela metade. Quando se fala em sustentabilidade, geralmente, o enfoque é a proteção ambiental, mas a sustentabilidade é muito mais que ecologia: ela é um balanço entre a dimensão social e a ambiental, incluindo os desafios sociais e econômicos. Nós somos educados e orientados para trabalhar de forma segmentada, mas é necessário que haja uma visão sistêmica. Se as pessoas entendessem essa integralidade, não existiria tanto desentendimento, por exemplo, entre os ministérios do Meio Ambiente, da Economia e da Agricultura dos países. Todos trabalhariam de forma integrada e sustentável pelo bem comum.

Como foi lidar com as diferenças culturais durante a redação da Carta da Terra?

Foi um processo enriquecedor e de muito diálogo. A declaração tem legitimidade justamente porque é um consenso global e foi elaborada por pessoas de diferentes raças, crenças e nacionalidades. O uso de algumas palavras foi exaustivamente discutido, por conta de seu significado para cada cultura. Os americanos, por exemplo, hesitaram em aceitar a palavra “amor” na declaração, por acharem que ela é sentimental demais. E nós brasileiros fomos cruciais para a decisão desse impasse. Explicamos que é necessário trabalhar nosso lado emocional para fazer com que tudo funcione. A redação da Carta foi uma grande troca de experiências e aprendizados.

Qual a estratégia da Carta da Terra Internacional para divulgar o documento pelo mundo?
Traduzimos a declaração para 50 idiomas e estamos trabalhando na criação de páginas na internet, no maior número possível de idiomas. Também divulgamos documentos de apoio como o Guia para Usar a Carta da Terra na Educação, voltado para educadores. Participamos de fóruns e eventos pelo mundo todo. Hoje, temos uma rede de 4.800 associados que apoiam a declaração, incluindo empresas, governos e ONGs. Mas é impossível precisar quantas entidades usam a Carta da Terra e quais projetos são desenvolvidos porque o movimento é descentralizado. Nós divulgamos a Carta, orientamos, mas não controlamos. Cada um a utiliza da melhor forma que pode.

A educação ocupa papel de protagonista nas ações da Carta da Terra?
Sem dúvida! A educação é a chave para as mudanças futuras, mas, o conceito de educação deve ser ampliado. Não é apenas nas escolas e universidades que se aprende o que é sustentabilidade. A educação informal é importantíssima. As formas de arte e a própria mídia também educam para a sustentabilidade, de uma forma mais branda, porém muito eficiente.

Quais são as iniciativas mais marcantes na área da Educação?
A Universidade Metodista de São Paulo, no ABC Paulista, está reformulando seu projeto pedagógico para inserir o ensino da sustentabilidade em todos os seus cursos. E a Carta da Terra é o documento que norteia esse processo. A UMAPAZ – Universidade Aberta do Meio Ambiente e Cultura de Paz, em São Paulo, baseia todas as suas atividades na Carta e oferece dezenas de cursos para educadores e para o público em geral. O Instituto Paulo Freire é outro bom exemplo, ele desenvolve projetos pedagógicos para escolas, com base também na declaração (Leia a resenha do livro A Carta da Terra para a Educação, que será lançado em maio, e também a entrevista com o autor do livro e presidente do Instituto, Moacir Gadotti)

O número de projetos voltados para a educação infantil parece maior do que nas universidades. Isso é real?
As crianças, realmente, aprendem com entusiasmo, mas o motivo principal é que as escolas estão mais abertas para trabalhar com a Carta da Terra do que as universidades. No ensino superior existem muitos egos, então, o diálogo é mais difícil. E nas escolas, as aulas tendem a ser mais interdisciplinares, o que facilita o ensino da sustentabilidade nas diferentes matérias.

Como você avalia o apoio à Carta da Terra pelo meio empresarial e o que está sendo feito para incentivá-lo?
A adesão do setor privado é chave e está aumentando consideravelmente nos últimos anos. Se precisamos colocar a sustentabilidade em todos os lugares, é fundamental que os processos produtivos sejam reorientados. A atuação das empresas transita por sua relação com a natureza, com a comunidade local, com seu público interno e, até, com outros países. A sustentabilidade precisa permear todas essas áreas. Estamos trabalhando em conjunto com a GRI – Global Reporting Initiative, que já tem suas normas adotadas por inúmeras empresas. A ideia é integrar os conceitos da Carta da Terra com os conceitos da GRI.

Quais iniciativas você destaca no setor privado?
O Hilton Hotel, em Washington, nos Estados Unidos, e o Hotel Parque del Lago, na Costa Rica. Ambos realizaram treinamentos sobre sustentabilidade com seus funcionários, inspirados na Carta da Terra, para que a ética seja praticada em todas as atividades dos empreendimentos. O Parque del Lado está, inclusive, usando os princípios da Carta para basear seu planejamento estratégico.

O Brasil é um dos países mais engajados na divulgação e implantação da Carta da Terra?
Sim, a atuação brasileira é muito relevante para o movimento. O Brasil é um país muito ativo e o compromisso da sociedade civil é grande em relação a outros países. Existem iniciativas muito criativas e animadoras, como o trabalho da ONG Harmonia da Terra, que criou um jogo de tabuleiro com os conceitos da Carta. Esta é uma excelente forma de divulgá-la. O Ministério do Meio Ambiente também é um grande apoiador. O órgão tem promovido a Carta em conjunto com as Agendas 21 locais. Também existem prefeituras, como a de São Paulo e a de Goiânia, que usam o documento como norte para muitas de suas atividades.

É possível dizer que a “parceria” entre Carta da Terra e Agenda 21 facilita a disseminação e a compreensão dos princípios da Carta?
É uma ótima ideia integrar a Carta da Terra com as Agendas 21. São conteúdos complementares, que se fortalecem e se ajudam. A Agenda 21 é um guia para ações e a Carta da Terra, o fundamento. É como se um fosse o corpo e o outro a alma. A iniciativa do Ministério do Meio Ambiente brasileiro deve, sim, servir de exemplo para outros países. Na Argentina, existe um programa parecido, também liderado pelo seu Ministério do Meio Ambiente, que trabalha com Agendas 21 nas escolas, em conjunto com a Carta.

Você pode citar outros exemplos relevantes, em outros países?
Em 2005, o Senado australiano reconheceu a relevância da Carta da Terra como princípio ético e declarou apoio à sua aplicação nas políticas de educação para o desenvolvimento sustentável. O México é outro país que se destaca em suas práticas. Lá, o Ministério do Meio Ambiente coordena a aplicação do documento em diversas áreas.

O México será sede da COP16, em dezembro. Isso aprofundou a adesão do país em relação à Carta da Terra?
O México tem um envolvimento fortíssimo com a Carta da Terra, que precede a escolha do país como sede da COP16. Em 1999, algumas ONGs do país começaram a aderir à iniciativa e, em 2002, o documento ganhou o apoio do governo federal. O Ministério do Meio Ambiente mexicano promove atividades e parcerias, principalmente na área da educação. Para se ter ideia de seu comprometimento, quase todos os governos estaduais e quase todas as universidades do país adotam a Carta da Terra. No dia 22/4, Dia da Terra, haverá uma grande celebração no país pelos dez anos da Carta, com a presença do presidente Felipe Calderón.

Como a Carta da Terra pode ajudar na busca de soluções para o aquecimento global?

A questão das mudanças climáticas é um problema de falta de ética. O dilema central para os países, hoje, é: “devo focar no interesse econômico nacional ou no bem de todos os habitantes do planeta?”. Prevalecem os interesses econômicos e essa questão ética não está na mesa de discussões. É muito difícil – eu diria praticamente impossível -, haver acordo sem uma base ética comum. Na COP16, vamos lutar para que a Carta da Terra seja aceita como essa base ética.

As mudanças climáticas e o aquecimento global levaram as questões ambientais para a vida diária de todo o mundo. Como está a parceria entre a Carta da Terra e as grandes organizações ambientalistas?
O apoio dessas organizações é fundamental e elas já representam uma parcela grande de nossos associados e colaboradores. A adesão à Carta da Terra ocorre de forma diferente em cada nação e existem muitos países nos quais as organizações ambientalistas são as líderes do processo. Na Alemanha, por exemplo, a Friends of the Earth é um dos principais parceiros da Carta da Terra e, na Itália, é a ONG Pronatura. A WWF reconhece e apoia a Carta, assim como o Greenpeace. No Brasil, o processo de consulta da Carta da Terra, entre 1997 e 1998, foi liderado pelo Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o meio Ambiente e Desenvolvimento, com a participação de um número grande de organizações ambientalistas.

Após dez anos de difusão da Carta da Terra, quais foram os principais resultados alcançados?
O reconhecimento da UNESCO, em 2003, foi a maior vitória. Naquele ano, a Conferência Geral da UNESCO, que reúne todos os ministérios de educação dos países membros da ONU, adotou a Carta da Terra como documento base para a Educação para a Sustentabilidade. O apoio da IUCN – World Conservation Union, a maior organização ambientalista do mundo, é outro fato relevante.

Para finalizar a entrevista, diga como as pessoas podem participar da iniciativa.
Cada um pode usar a Carta da Terra como bússola para as suas atitudes pessoais, agindo com respeito e amor ao meio ambiente e aos seus semelhantes. Se queremos que o documento norteie as decisões de governos, empresas e ONGs, nada mais coerente que começarmos por nós mesmos. Como dizia Gandhi, “Seja a mudança que você quer ver no mundo”.

Quando o mundo despertou para a sustentabilidade, durante a Rio-92, a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, Mirian Vilela já era expert no assunto. Mestre em Administração Pública pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, ela foi membro da secretaria que, durante dois anos, organizou a histórica conferência realizada no Rio de Janeiro, a primeira de grande magnitude depois da Guerra Fria.

Foi naquela época que surgiu a ideia de escrever uma declaração internacional que funcionasse como uma Constituição do Planeta, com diretrizes para um mundo sustentável que englobassem temas como ecologia, justiça social e econômica, paz e respeito à diversidade. “Mas não houve acordo político para isso naquele momento e a iniciativa foi retomada no ano seguinte, fora da ONU”, conta Mirian, que participou de todo o processo trabalhando na ONG Conselho da Terra, do canadense Maurice Strong, o secretário geral da Rio-92. Até o lançamento da declaração – a Carta da Terra –, no ano 2000, foram anos de consultas e debates envolvendo gente do mundo todo.

Somente em 2006, alguns profissionais ligados à redação do documento fundaram o movimento Carta da Terra Internacional, com sede na Universidade da Paz, mantida pela ONU, na Costa Rica. Mirian Vilela, desde 2007, é a diretora-executiva da organização responsável por disseminar a declaração pelo mundo. Hoje, mais de 90 países nos cinco continentes possuem atividades baseadas na Carta.

Com a autoridade de quem participou ativamente do nascimento e da divulgação do documento, Mirian Vilela comenta a importância da Carta e os projetos que a declaração inspirou, além dos planos para este ano de celebrações.

Como está a consciência das pessoas em relação à sustentabilidade?
Ainda não é satisfatória, pois as pessoas têm consciência do conceito pela metade. Quando se fala em sustentabilidade, geralmente, o enfoque é a proteção ambiental, mas a sustentabilidade é muito mais que ecologia: ela é um balanço entre a dimensão social e a ambiental, incluindo os desafios sociais e econômicos. Nós somos educados e orientados para trabalhar de forma segmentada, mas é necessário que haja uma visão sistêmica. Se as pessoas entendessem essa integralidade, não existiria tanto desentendimento, por exemplo, entre os ministérios do Meio Ambiente, da Economia e da Agricultura dos países. Todos trabalhariam de forma integrada e sustentável pelo bem comum.

Como foi lidar com as diferenças culturais durante a redação da Carta da Terra?

Foi um processo enriquecedor e de muito diálogo. A declaração tem legitimidade justamente porque é um consenso global e foi elaborada por pessoas de diferentes raças, crenças e nacionalidades. O uso de algumas palavras foi exaustivamente discutido, por conta de seu significado para cada cultura. Os americanos, por exemplo, hesitaram em aceitar a palavra “amor” na declaração, por acharem que ela é sentimental demais. E nós brasileiros fomos cruciais para a decisão desse impasse. Explicamos que é necessário trabalhar nosso lado emocional para fazer com que tudo funcione. A redação da Carta foi uma grande troca de experiências e aprendizados.

Qual a estratégia da Carta da Terra Internacional para divulgar o documento pelo mundo?
Traduzimos a declaração para 50 idiomas e estamos trabalhando na criação de páginas na internet, no maior número possível de idiomas. Também divulgamos documentos de apoio como o Guia para Usar a Carta da Terra na Educação

, voltado para educadores. Participamos de fóruns e eventos pelo mundo todo. Hoje, temos uma rede de 4.800 associados que apoiam a declaração, incluindo empresas, governos e ONGs. Mas é impossível precisar quantas entidades usam a Carta da Terra e quais projetos são desenvolvidos porque o movimento é descentralizado. Nós divulgamos a Carta, orientamos, mas não controlamos. Cada um a utiliza da melhor forma que pode.

A educação ocupa papel de protagonista nas ações da Carta da Terra?
Sem dúvida! A educação é a chave para as mudanças futuras, mas, o conceito de educação deve ser ampliado. Não é apenas nas escolas e universidades que se aprende o que é sustentabilidade. A educação informal é importantíssima. As formas de arte e a própria mídia também educam para a sustentabilidade, de uma forma mais branda, porém muito eficiente.

Quais são as iniciativas mais marcantes na área da Educação?
A Universidade Metodista de São Paulo, no ABC Paulista, está reformulando seu projeto pedagógico para inserir o ensino da sustentabilidade em todos os seus cursos. E a Carta da Terra é o documento que norteia esse processo. A UMAPAZ – Universidade Aberta do Meio Ambiente e Cultura de Paz, em São Paulo, baseia todas as suas atividades na Carta e oferece dezenas de cursos para educadores e para o público em geral. O Instituto Paulo Freire é outro bom exemplo, ele desenvolve projetos pedagógicos para escolas, com base também na declaração (Leia a resenha do livro A Carta da Terra para a Educação, que será lançado em maio, e também a entrevista com o autor do livro e presidente do Instituto, Moacir Gadotti)

O número de projetos voltados para a educação infantil parece maior do que nas universidades. Isso é real?
As crianças, realmente, aprendem com entusiasmo, mas o motivo principal é que as escolas estão mais abertas para trabalhar com a Carta da Terra do que as universidades. No ensino superior existem muitos egos, então, o diálogo é mais difícil. E nas escolas, as aulas tendem a ser mais interdisciplinares, o que facilita o ensino da sustentabilidade nas diferentes matérias.

Como você avalia o apoio à Carta da Terra pelo meio empresarial e o que está sendo feito para incentivá-lo?
A adesão do setor privado é chave e está aumentando consideravelmente nos últimos anos. Se precisamos colocar a sustentabilidade em todos os lugares, é fundamental que os processos produtivos sejam reorientados. A atuação das empresas transita por sua relação com a natureza, com a comunidade local, com seu público interno e, até, com outros países. A sustentabilidade precisa permear todas essas áreas. Estamos trabalhando em conjunto com a GRI – Global Reporting Initiative, que já tem suas normas adotadas por inúmeras empresas. A ideia é integrar os conceitos da Carta da Terra com os conceitos da GRI.

Quais iniciativas você destaca no setor privado?
O Hilton Hotel, em Washington, nos Estados Unidos, e o Hotel Parque del Lago, na Costa Rica. Ambos realizaram treinamentos sobre sustentabilidade com seus funcionários, inspirados na Carta da Terra, para que a ética seja praticada em todas as atividades dos empreendimentos. O Parque del Lado está, inclusive, usando os princípios da Carta para basear seu planejamento estratégico.

O Brasil é um dos países mais engajados na divulgação e implantação da Carta da Terra?
Sim, a atuação brasileira é muito relevante para o movimento. O Brasil é um país muito ativo e o compromisso da sociedade civil é grande em relação a outros países. Existem iniciativas muito criativas e animadoras, como o trabalho da ONG Harmonia da Terra, que criou um jogo de tabuleiro com os conceitos da Carta. Esta é uma excelente forma de divulgá-la. O Ministério do Meio Ambiente também é um grande apoiador. O órgão tem promovido a Carta em conjunto com as Agendas 21 locais. Também existem prefeituras, como a de São Paulo e a de Goiânia, que usam o documento como norte para muitas de suas atividades.

É possível dizer que a “parceria” entre Carta da Terra e Agenda 21 facilita a disseminação e a compreensão dos princípios da Carta?
É uma ótima ideia integrar a Carta da Terra com as Agendas 21. São conteúdos complementares, que se fortalecem e se ajudam. A Agenda 21 é um guia para ações e a Carta da Terra, o fundamento. É como se um fosse o corpo e o outro a alma. A iniciativa do Ministério do Meio Ambiente brasileiro deve, sim, servir de exemplo para outros países. Na Argentina, existe um programa parecido, também liderado pelo seu Ministério do Meio Ambiente, que trabalha com Agendas 21 nas escolas, em conjunto com a Carta.

Você pode citar outros exemplos relevantes, em outros países?
Em 2005, o Senado australiano reconheceu a relevância da Carta da Terra como princípio ético e declarou apoio à sua aplicação nas políticas de educação para o desenvolvimento sustentável. O México é outro país que se destaca em suas práticas. Lá, o Ministério do Meio Ambiente coordena a aplicação do documento em diversas áreas.

O México será sede da COP16, em dezembro. Isso aprofundou a adesão do país em relação à Carta da Terra?
O México tem um envolvimento fortíssimo com a Carta da Terra, que precede a escolha do país como sede da COP16. Em 1999, algumas ONGs do país começaram a aderir à iniciativa e, em 2002, o documento ganhou o apoio do governo federal. O Ministério do Meio Ambiente mexicano promove atividades e parcerias, principalmente na área da educação. Para se ter ideia de seu comprometimento, quase todos os governos estaduais e quase todas as universidades do país adotam a Carta da Terra. No dia 22/4, Dia da Terra, haverá uma grande celebração no país pelos dez anos da Carta, com a presença do presidente Felipe Calderón.

Como a Carta da Terra pode ajudar na busca de soluções para o aquecimento global?

A questão das mudanças climáticas é um problema de falta de ética. O dilema central para os países, hoje, é: “devo focar no interesse econômico nacional ou no bem de todos os habitantes do planeta?”. Prevalecem os interesses econômicos e essa questão ética não está na mesa de discussões. É muito difícil – eu diria praticamente impossível -, haver acordo sem uma base ética comum. Na COP16, vamos lutar para que a Carta da Terra seja aceita como essa base ética.

As mudanças climáticas e o aquecimento global levaram as questões ambientais para a vida diária de todo o mundo. Como está a parceria entre a Carta da Terra e as grandes organizações ambientalistas?
O apoio dessas organizações é fundamental e elas já representam uma parcela grande de nossos associados e colaboradores. A adesão à Carta da Terra ocorre de forma diferente em cada nação e existem muitos países nos quais as organizações ambientalistas são as líderes do processo. Na Alemanha, por exemplo, a Friends of the Earth é um dos principais parceiros da Carta da Terra e, na Itália, é a ONG Pronatura. A WWF reconhece e apoia a Carta, assim como o Greenpeace. No Brasil, o processo de consulta da Carta da Terra, entre 1997 e 1998, foi liderado pelo Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o meio Ambiente e Desenvolvimento, com a participação de um número grande de organizações ambientalistas.

Após dez anos de difusão da Carta da Terra, quais foram os principais resultados alcançados?
O reconhecimento da UNESCO, em 2003, foi a maior vitória. Naquele ano, a Conferência Geral da UNESCO, que reúne todos os ministérios de educação dos países membros da ONU, adotou a Carta da Terra como documento base para a Educação para a Sustentabilidade. O apoio da IUCN – World Conservation Union, a maior organização ambientalista do mundo, é outro fato relevante.

Para finalizar a entrevista, diga como as pessoas podem participar da iniciativa.
Cada um pode usar a Carta da Terra como bússola para as suas atitudes pessoais, agindo com respeito e amor ao meio ambiente e aos seus semelhantes. Se queremos que o documento norteie as decisões de governos, empresas e ONGs, nada mais coerente que começarmos por nós mesmos. Como dizia Gandhi, “Seja a mudança que você quer ver no mundo”.

Fonte: http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/desenvolvimento/mirian-vilela-carta-terra-desenvolvimento-sustentavel-551761.shtml?func=2

 
 
 
 
 
 
 
 
 

 

4 pensamentos sobre “A Carta da Terra

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  2. Paz , tenho 6 galinhas de Angola e uma galinha normal que criou as galinhas da Angola, so que agora a galinha a que chocou as galinhas de angola esta chocando novamente, mas dai as galinhas de angola que agora estao completando 6 meses uma delas especificamente esta cantando muito pela falta da galinha creio, ja abri o ninho da galinha mas ela continua e é muito aacho que é de 10 em 10 minutos e o problema moro na cidade. O que faço? Sem gastar.

  3. A carta da terra, na teoria, é muito bonita e boa, mas na pratica, tenho observado grave distorções.
    Impõe-se fardos pesados, (como restringir consumo de alimentos, energia e água, conforto, saúde, educação, etc) aos pobres e trabalhadores, enquanto aos abastados, burgueses, controladores de setores como: energia, agua, saneamento, rodovias, comunicação, alimentos, etc., ficam desobrigados, ou seja, consomem e degradam muito e não preservam nada.
    O agricultor familiar, não pode nem podar uma arvore para manejar a agrofloresta, sob pena de ir preso, e sofrer pesadas multas, enquanto os grandes proprietários desmatam dezenas ou centenas de hectares e a notícia que chega é: progresso agrícola, nova fronteira agrícola.
    Enfim a carta da terra é boa e útil, mas não pode continuar sendo usada para oprimir e restringir o pobre e trabalhador e privilegiar os “donos da terra”.

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