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Entenda como o planeta entrou em colapso e conheça a conspiração para esconder isso de você.

o-comeco-do-fim-01_15cm1A humanidade está diante da maior ameaça de todos os tempos: o aquecimento global.
Fonte: Revista Super Interessante – Edição 218 – OUT de 2005 – Texto Rafael Kenski
No mês passado, o furacão Katrina devastou Nova Orleans. Não demorou um dia até que uma porção de gente começasse a declarar que a culpa não era do efeito estufa. O climatologista Pat Michaels, da Universidade da Virgínia, por exemplo, se apressou a afirmar que “ainda não há prova de que as contribuições humanas para o efeito estufa causem furacões”. É sempre assim. Existe nos EUA um verdadeiro exército disposto a desfazer qualquer relação entre a ação humana e os efeitos destrutivos do aquecimento global. “Há uma enorme campanha de desinformação”, diz o jornalista Ross Gelbspan, autor de Boiling Point (“Ponto de Ebulição”, inédito no Brasil). A tese de Gelbspan é a de que o governo Bush e as empresas petrolíferas investem pesado em confundir a opinião pública. Quer dizer então que a ação humana causou o Katrina? Não. Impossível afirmar isso com o pouco que sabemos sobre clima. Mas uma coisa é certa: furacões só acontecem quando as águas dos oceanos ficam quentes demais – e o mundo está cada vez mais quente, como você pode ver no mapa abaixo.o-comeco-do-fim-021

A temperatura média do planeta subiu 0,7 ºC no último século. Nas últimas décadas, geleiras tidas como eternas começaram a derreter, enchentes e secas se tornaram mais violentas, ondas de calor mataram milhares e um furacão fez sua estréia no Brasil. E o pior: foi só o começo. Nos próximos 100 anos, prevê-se que a temperatura aumentará entre 1,4 ºC e 5,8 ºC. Se considerarmos que 0,7 ºC causou tudo isso, dá para dizer que a palavra “apocalipse” não está longe de descrever o que vem por aí. O aquecimento global não é uma ameaça distante: é um perigo palpável, real, e está bem na sua frente.

Ele já está entre nós

Os moradores de Fairbanks, a maior cidade do interior do Alasca, perceberam que algo estava errado quando a cidade começou a afundar. Localizada no extremo norte da América, a região é tão fria que muitas ruas são construídas sobre uma camada de gelo, parte dele com mais de 12 mil anos de idade. O calor esburacou as ruas e entortou as casas. A 850 quilômetros dali, todo o gelo que protegia a vila de Shishmaref do vento e das ondas derreteu, o que obrigou os habitantes a mudar a cidade inteira para outro lugar, a um custo de 180 milhões de dólares.

O Alasca é uma das regiões mais afetadas pelo aquecimento global – em alguns pontos, a temperatura no inverno subiu 6 ºC desde 1960. Entretanto, quase todos os lugares frios do mundo têm uma história para contar a respeito do calor crescente. No início de 2002, uma placa de gelo com o dobro do tamanho da cidade de São Paulo e 220 metros de espessura se desfez em pedaços na Antártida em apenas um mês. Em todos os continentes, a maioria das geleiras – os rios de gelo que correm do topo das montanhas – está sumindo. “A julgar pela taxa com que estão diminuindo, perderemos grande parte delas nas próximas décadas”, afirma o climatologista Lonnie Thompson, da Universidade do Estado de Ohio, EUA, que desde os anos 70 sobe montanhas em uma corrida para estudar o gelo antes que ele acabe. Pelas suas previsões, as neves no topo do Kilimanjaro, o ponto culminante da África, não passarão de 2015. No Himalaia, a mais alta cadeia de montanhas do mundo, dois terços das geleiras podem entrar em colapso, provocando primeiro enchentes catastróficas na China, Índia e Nepal e, depois, falta de água em toda essa região superpovoada.

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Tanto degelo não é à toa. A década de 1990 foi a mais quente desde que os cientistas começaram as medições, no século 19 – 1998 registrou o calor recorde e 2005 é forte candidato ao 2o lugar na lista. Há indícios de que as altas temperaturas da última década não têm paralelo ao menos nos últimos 1 000 anos.

“O que o aquecimento global faz é tornar o ano todo mais parecido com um verão”, diz o meteorologista Carlos Nobre, do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC). Além do calor, espere todas as atrações de um verão que se preze (secas, enchentes e tempestades) e mais algumas (nevascas, por exemplo, que são fruto de mais umidade em regiões frias). “Se aquecemos a atmosfera, aumentamos a energia e toda a máquina do clima trabalha mais rápido: muita chuva em um momento e muita evaporação em outro. E aí começa o caos”, afirma José Marengo, também do CPTEC.

Com isso, os prejuízos com desastres naturais ao redor do mundo têm aumentado. Segundo a ONU, eles foram de 55 bilhões de dólares em 2002. Em 2003, o número subiu para 60 bilhões. Um relatório elaborado em 2002 por 295 bancos e companhias de seguro concluiu que as perdas chegarão a 150 bilhões de dólares por ano na próxima década. Andrew Dlugolecki, diretor da maior seguradora britânica, avalia que as perdas em 2065 serão maiores do que o valor de toda a produção mundial.

É difícil saber se toda essa grana pode ser debitada da conta do aquecimento global. Afinal, o clima sempre foi imprevisível e sujeito a desgraças repentinas. Mas a lógica diz que deve haver algo de errado quando tanta coisa estranha acontece ao mesmo tempo. Veja como exemplo o furacão Catarina, que em março de 2004 atingiu a Região Sul brasileira, destruindo milhares de casas. Ele bem pode ser um fenômeno de causas naturais. Mas nunca em toda a história houve qualquer registro de furacões naquelas bandas. Não é coincidência demais que tenha acontecido justo agora?

Mas existem alguns fenômenos mais fáceis de relacionar ao aquecimento. Em 2003, um calor muito acima da média na Europa causou cerca de 30 mil mortes e um prejuízo direto de 13,5 bilhões de dólares. “Foi um verão atípico, mas os modelos dizem que, daqui a 50 anos, a temperatura média européia será parecida com a que gerou essa catástrofe”, diz David King, o principal consultor para assuntos científicos do governo inglês. Outra conseqüência bem clara do aquecimento global é que, em todo o mundo, o inverno está chegando mais tarde e o verão, mais cedo. Na Inglaterra, a primavera aparece 3 semanas antes. Isso significa flores desabrochando mais cedo, animais mudando a época de acasalamento e muitas espécies migrando lentamente em direção aos pólos, onde o clima é mais parecido com o que estavam acostumadas.

Não apenas as espécies selvagens são afetadas pelo problema: as plantações também perdem. Entre 2000 e 2003, pela primeira vez na história recente, o mundo produziu menos grãos do que consumiu por 4 anos seguidos (ou seja, tivemos de atacar nossos estoques). “A produção cai com o aumento da temperatura. Inevitavelmente, ela vai diminuir mais e a fome no mundo, aumentar”, diz o agrometereologista Hilton Silveira Pinto, da Unicamp.

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Esses problemas já estão fazendo vítimas. Segundo a Organização Mundial da Saúde, o aquecimento global mata cerca de 160 mil pessoas por ano. Vários dos fatores diretos das mudanças climáticas afetam a saúde: falta de alimentos leva à desnutrição, enchentes trazem leptospirose e contaminam fontes de água, o que traz diarréias. Mas, nessa história toda, pelo menos uma família de animais parece ter se beneficiado: os mosquitos. Resultado: epidemias. Eles não só se proliferam mais rapidamente no calor como atingem áreas que antes eram frias demais para o seu estilo de vida. Junto com eles, doenças como malária, dengue e febre amarela têm mais possibilidades de se propagar. Ou seja, é uma tragédia. Mas pode piorar muito.

Por que esquenta?

Mas, afinal, de onde vem o aquecimento global? Acertou quem respondeu “efeito estufa”. Não que ele seja ruim por natureza. O efeito estufa é o fruto da ação de vários gases – como dióxido de carbono, metano, óxido nitroso e até vapor de água – e o seu resultado é preservar um pouco do calor na Terra e permitir que o nosso planeta se mantenha com essa temperatura confortável (veja o infográfico na página 46). Não fosse por ele, toda a energia que o Sol emite durante o dia escaparia para o espaço à noite e a temperatura média do planeta ficaria em torno de 18 oC negativos, em vez dos acolhedores 13 oC positivos de hoje.

O mais influente desses gases, o dióxido de carbono, está em uma concentração bem pequena na atmosfera. Até o século 19, ele não passava de 0,027% do ar que respiramos. Entretanto, em 1958, quando os cientistas começaram a medir a concentração, a nossa queima de combustíveis já tinha jogado esse número para 0,031%. Hoje, ele já passa dos 0,037%. Parece pouco, mas é uma concentração que com certeza nunca foi vista nos últimos 420 mil anos e possivelmente nos últimos 20 milhões de anos.

Com mais dióxido carbono no ar, temos certamente uma receita para um mundo mais quente – mas é bem difícil de dizer o quanto. Vários efeitos, alguns quase desconhecidos da ciência, influem no clima. Pode ser, por exemplo, que a temperatura do planeta sofra uma grande influência das mudanças na atividade solar, um fenômeno misterioso e dificílimo de medir. O resultado disso é que, apesar de os cientistas saberem que o planeta está esquentando, ninguém pode determinar ao certo qual porcentagem desse aquecimento é culpa nossa.

Nesse ponto, a meteorologia é uma ciência bem peculiar. “A Terra é uma só, não dá para fazer experimentos e depois comparar”, diz o ecólogo mexicano Exequiel Ezcurra, do Museu de História Natural de San Diego, EUA. “Temos de decifrar o aquecimento global da mesma forma com que Darwin fez a Teoria da Evolução: observando, anotando e criando modelos”. Os modelos a que Ezcurra se refere existem em alguns dos computadores mais potentes do mundo – são softwares que tentam reproduzir com fidelidade cada variável que influi no clima. É claro que esses modelos ainda são imperfeitos: por mais memória que um computador tenha, ele ainda fica longe da complexidade da atmosfera terrestre. Mas o fato é que estamos chegando cada vez mais perto desse objetivo.

E, quanto melhores os modelos ficam, mais aparecem evidências de que o aquecimento global não poderia acontecer apenas por causas naturais. Um exemplo é uma pesquisa de 1997 que mostrou que as temperaturas mínimas noturnas e de inverno estão subindo quase duas vezes mais rápido do que as máximas diurnas e de verão. Variações na atividade do Sol fariam as duas oscilarem de forma parecida. Outra pesquisa, feita dois anos depois, mostrou que todas as causas naturais somadas não teriam a força suficiente para levar às alterações que estamos observando no clima. Ou seja, cabe mesmo à humanidade tomar uma providência.

A conspiração do calor

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Por mais dados que se acumulem, a opinião pública parece estar cada vez menos preocupada. Em 1991, uma pesquisa da revista Newsweek mostrou que 35% dos americanos acreditavam no aquecimento global como fato. Em 1996, o número tinha caído para 22%. O que mudou no meio tempo? Foi nessa época que a tal “campanha de desinformação” da qual fala Ross Gelbspan ganhou corpo. Basicamente, difundiu-se a idéia de que culpar a ação humana pelo aquecimento global é só uma teoria não comprovada e que, portanto, não precisamos nos preocupar.

Realmente, há ainda muitas dúvidas cercando o assunto – só que a existência do aquecimento global e a nossa responsabilidade nele não estão entre elas. Quem garante é o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (conhecido pela sigla em inglês, IPCC), um grupo de cerca de 2 mil cientistas de mais de 100 países que se reuniram, em uma das maiores colaborações científicas da história para analisar o problema. “Ter tantos pesquisadores defendendo a mesma opinião é o mais perto que se pode chegar de uma verdade científica”, diz Gelbspan.

Mesmo assim, há alguns poucos pesquisadores dispostos a afirmar que o aquecimento global não existe, que ele não é causado pela ação humana ou até que ele não vai ser ruim para o mundo. Três dos mais famosos desses cientistas são o meteorologista Richard Lindzen, o físico Fred Singer e o climatologista Pat Michaels, este último aquele que disse no começo desta reportagem que ninguém provou que ações humanas possam causar furacões. O problema é saber se dá para acreditar em alguma coisa do que esses cientistas vêm dizendo.

solucao“Singer, Michaels e outros ‘céticos’ estavam manipulando dados, omitindo fatos cruciais, criando objeções ilusórias e interpretando a situação de forma errada deliberadamente”, diz Gelbspan. O jornalista revelou que os 3, sem contar a ninguém, vinham recebendo dinheiro de indústrias de carvão e petróleo para fazer suas pesquisas. Segundo ele, Singer e Michaels foram pagos pela Peabody, a maior empresa privada de carvão do mundo, para fazer uma turnê pelos EUA pregando que o aquecimento é uma “teoria”, não um fato. A empresa deixava claro que o público-alvo dessas palestras seriam pessoas de baixo nível educacional – alvos mais fáceis de manipulação.

Mas o personagem que mais contribuiu para gerar dúvidas sobre as mudanças climáticas não é um cientista. Trata-se de ninguém menos que o presidente dos EUA, George W. Bush. Exemplo da atuação dele é um relatório escrito pelo assessor da Casa Branca Frank Luntz, que entre outras coisas já havia recomendado trocar o termo “aquecimento global” pelo mais ameno “mudança climática”. No relatório, chamado Vencendo o Debate sobre Aquecimento Global, que uma ong trouxe a público, Luntz recomendava que, em vez de controlar as emissões, o governo deveria passar a imagem de que desenvolveria tecnologias capazes de resolver o problema. E acrescentava que “o público acredita que não existe consenso sobre aquecimento global na comunidade científica. Se ele vier a acreditar que as questões científicas estão fechadas, sua opinião irá mudar.” E concluía: “Existe ainda uma oportunidade para desafiar a ciência.”

Bush retirou seu país dos acordos da ONU para o controle de gases de efeito estufa, praticamente melando a decisão, já que os EUA produzem mais de um terço desses gases no mundo. Ele também defendeu que era preciso “mais pesquisas” antes de qualquer decisão e afirmou que limitar a emissão de gases ameaçaria o estilo de vida americano. No início de seu primeiro mandato, anunciou um plano energético que previa a construção de 1 300 a 1 900 usinas termoelétricas, a maioria a carvão, o combustível que mais emite gases do efeito estufa. “O plano de Bush é basicamente um atalho para o caos climático”, diz Gelbspan.

Em 2003, o presidente americano chamou de “fruto da burocracia” um estudo da Agência Americana de Proteção Ambiental que afirmava que a emissão de gás carbônico aqueceria os EUA. No ano seguinte, seu gabinete censurou de um relatório dessa mesma agência qualquer referência aos problemas climáticos. Uma revelação de como funcionavam esses cortes veio no início deste ano, quando Rick Piltz, um dos coordenadores do programa de pesquisas em mudanças climáticas do governo americano, divulgou uma carta denunciando a alteração forçada de relatórios científicos. O autor das mudanças seria Philip Cooney, um ex-lobista do Instituto Americano de Petróleo (uma associação comercial da indústria petrolífera), que foi alçado, no governo Bush, a nada menos do que chefe do Conselho de Qualidade Ambiental. Cooney renunciou em junho deste ano, quando o jornal The New York Times trouxe a público documentos que comprovavam as tais mudanças nos textos científicos. No mês seguinte, ele foi contratado pela gigante petrolífera ExxonMobil.

É fácil entender o interesse das empresas de carvão e petróleo em abafar as discussões sobre as mudanças climáticas. Afinal, resolver o problema requereria cortes drásticos nos seus principais produtos, a ponto de ameaçar a própria existência dessas indústrias. E trata-se de um setor gigantesco, que movimenta 1 trilhão de dólares e que, entre 1998 e 2004, gastou nada menos que 440 milhões de dólares em influência política nos EUA, principalmente com lobistas e contribuições de campanha. A relação dessas indústrias com o governo Bush são especialmente próximas, não só pelas doações vultosas, mas também pelo fato de que várias pessoas do gabinete têm vínculos com empresas do setor. “Normalmente, os casos de corrupção levam a produtos defeituosos ou fundos de pensão fraudados. Mas, nesse caso, o que está em jogo é o futuro do planeta. É um crime contra a humanidade”, afirma Gelbspan.

E qual é a solução?

Não é um problema simples. O que está em jogo é nada menos do que a forma como a humanidade obtém energia para fazer basicamente tudo – e as mudanças nesse modelo terão de ser drásticas se realmente queremos escapar do pior. Em 2003, 3 cientistas americanos mostraram que, para evitar um aumento maior do que 2 ºC na temperatura nas próximas décadas, precisaríamos que dois terços de nossas energias viessem de outras fontes que não o carbono até o final do século (isso na previsão mais otimista. Na pior, teríamos de eliminar as emissões por completo).

Isso quer dizer que teremos de desenvolver uma quantidade gigantesca de tecnologias para substituir todas as comodidades que o petróleo nos fornece. Em teoria, o mundo já tem quase todas as técnicas de que ele precisa para amenizar o problema, mas colocá-las em prática está longe de ser simples (veja o infográfico na página 52). Uma das idéias mais promissoras, por exemplo, é capturar dióxido de carbono que seria jogado na atmosfera e enterrá-lo em fossas a, no mínimo, 800 metros de profundidade, para que não saia nunca mais de lá. A idéia é engenhosa, mas vá saber como colocá-la em prática. Os cientistas ainda travam acaloradas discussões para encontrar formas de detectar pequenos vazamentos e de levar os gases às fossas.

O país que mais defende a idéia de que as tecnologias vão nos salvar é, pouco surpreendentemente, os EUA, maiores emissores de gases de efeito estufa do planeta. Em julho, eles aderiram a um pacto com Austrália, China, Índia, Japão e Coréia do Sul para desenvolver tecnologias capazes de substituir o carbono. Em vez de diminuir as emissões, o plano de Bush para 2012 é reduzir em 18% a intensidade do carbono, ou seja, a quantidade de gases do efeito estufa necessárias para se obter a mesma produção. “Investir apenas no desenvolvimento de tecnologias é empurrar o problema mais para a frente, quando ele hoje já pode ser grave o suficiente. É parte da ilusão de que a tecnologia resolve tudo”, diz Luiz Pinguelli Rosa, secretário executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas.

A maior parte dos cientistas acredita que a única solução viável é mesmo reduzir a quantidade de gases do efeito estufa que jogamos na atmosfera. Esse projeto até chegou perto de virar realidade em 1992, quando representantes de quase todas as nações se juntaram para discutir o problema, no Rio de Janeiro. O resultado foi um acordo em que os países visavam manter as emissões no mesmo nível de 1990. Mas as boas intenções pararam aí. Quase ninguém cumpriu a promessa e, 5 anos depois, houve uma nova reunião, dessa vez no Japão. Daí saiu o famoso protocolo de Quioto. Ele propõe que os países reduzam suas emissões a um nível em média 5,2% menor do que o de 1990 e estabelece 2012 como prazo.

Em grande parte por influência do Brasil, as nações assumiram “responsabilidades históricas” pelas emissões. Em outras palavras: como o dióxido de carbono permanece por mais de um século na atmosfera, grande parte do problema de hoje se deve a emissões que as nações ricas fizeram há décadas e que foram fundamentais para o seu desenvolvimento. Por isso, os países pobres ficaram isentos de obrigações, para terem alguma chance de se desenvolver também. Um outro mecanismo bolado em Quioto é o mercado de carbono: países e empresas que excedessem sua cota poderiam “comprar” créditos de outras nações, financiando programas que controlem as emissões de carbono por lá – coisas como reflorestar áreas desmatadas ou capturar o carbono antes que ele caia na atmosfera (a esses projetos se deu o nome de “mecanismos de desenvolvimento limpo”). Tudo bonito, mas que perdeu muito do sentido em 2001, quando os EUA de Bush desistiram de implementar o protocolo sob o argumento de que ficariam em desvantagem diante das nações em desenvolvimento. No início de 2005, o protocolo entrou em vigor, mas sem os americanos.

“Os mecanismos do protocolo de Quioto estão tendo um impacto substancial no Brasil”, diz José Miguez, coordenador geral de mudanças do clima do Ministério da Ciência e Tecnologia, que participou ativamente das negociações. O país tem cerca de 30% dos projetos de mecanismos de desenvolvimento limpo e é de longe o líder nessas iniciativas. As vantagens por aqui vão além do controle de emissões: programas de reflorestamento, por exemplo, poderão ajudar a preservar a biodiversidade no país. Mas isso não acaba com o risco do aquecimento global. “A idéia de Quioto não é durar até 2100, mas criar um novo modelo de desenvolvimento, menos baseado na queima de carbono”, diz Miguez. “E isso ele está conseguindo”.

Mesmo que isso aconteça, talvez tenhamos de pagar um bom preço por esse tal novo modelo. “Hoje vemos a saída em mecanismos de desenvolvimento limpo, mas, quando a situação piorar, começaremos a achar aceitáveis medidas mais drásticas”, diz Pinguelli Rosa. “É possível que tenhamos, por exemplo, que simplesmente eliminar a circulação de automóveis.” O lado bom é que o esforço para deter esse apocalipse certamente vai nos forçar a buscar novas formas de cooperação internacional. “O problema da camada de ozônio foi controlado quando os países entraram em acordo, decidiram não emitir mais gases CFC e encontraram substitutos para ele. É um exemplo do que deve ser feito com os gases do efeito estufa”, disse à Super Mario Molina, da Universidade da Califórnia em San Diego, que ganhou o Prêmio Nobel de Química em 1995 por ter decifrado as causas da destruição do ozônio. Só resta torcer para que essa decisão não chegue tarde demais.

Calor recorde

O mapa à esquerda mostra as regiões que apresentaram calor anormal entre junho e agosto deste ano. Cada bolinha preta indica um local em que a temperatura nesses 3 meses foi maior que a média dos últimos 30 anos. A temporada deste ano foi a 2a mais quente já medida – e deixou marcas, como o furacão Katrina, nos EUA. Cidades inteiras ficaram embaixo de lama.

Efeito Estufa

A energia solar chega à Terra na forma de luz visível e atravessa a atmosfera. Quando ela atinge o solo, este esquenta e devolve o calor na forma de radiação ultravioleta. Os gases do efeito estufa são transparentes à luz visível, mas não à ultravioleta, e por isso mantêm parte do calor na Terra.

Vapor de água

Um planeta mais aquecido estimula a evaporação da água. Só que o vapor também contribui para o efeito estufa e, ao se espalhar pela atmosfera, aumenta ainda mais o calor. Isso causa mais evaporação, que coloca mais vapor na atmosfera, gerando um círculo vicioso.

Reflexo no Gelo

O gelo é como um espelho que reflete mais de 80% da energia solar que incide nele. Quando o calor o derrete, a área passa a ser ocupada por água, que reflete menos de 10% da luz solar. Isso significa que a região tende a esquentar ainda mais – e, com isso, derreter mais gelo.

Absorção de CO2

Oceanos são os principais responsáveis por tirar gás carbônico da atmosfera. Mas existe um limite para a quantidade que podem absorver – e quanto mais quente, mais fácil é atingi-lo. Se isso acontecer, a temperatura do planeta subiria rapidamente.

Gases escondidos

Existem grandes quantidades de matéria orgânica presa em pedaços de gelo muito antigos. Ao derreter, ela fica sujeita à ação de bactérias que a transformam em metano, um poderoso gás do efeito estufa. O calor também estimula que bactérias no solo emitam gás carbônico.

Aerossóis

São partículas sólidas em suspensão, como areia, pólen e fumaça. Muitos aglutinam moléculas de água e formam nuvens densas, que refletem a luz do Sol de volta para o espaço, o que esfria o planeta. Controlar a emissão desses poluentes pode acabar esquentando ainda mais o planeta.

Os mecanismos

A Terra não é simples. Cada detalhe pode desencadear centenas de conseqüências que mudam todo o resultado, e alguns desses detalhes são totalmente imprevisíveis. Veja ao lado os principais efeitos que interferem no clima mundial.

Conclusão

Se fosse só pelo efeito estufa, dobrar a concentração de gases aumentaria a temperatura do planeta em 1,2 oC. Somando os outros efeitos, os cientistas acreditam que a mesma quantidade de gás aumentará a temperatura da Terra entre 1,5 oC e 4,5 oC.

MAR EM ASCENsÃO

A previsão é de que os oceanos subam entre 9 e 88 centímetros no próximo século. Vai ser suficiente para que a população inteira de países em pequenos arquipélagos como Tuvalu e as Ilhas Marshall tenham de migrar para outros lugares.

Degelo

Quando uma geleira começa a derreter, é difícil fazê-la parar. Ela forma rachaduras que levam água até o fundo e lubrificam o contato com a rocha, fazendo com que o gelo escorregue mais rapidamente.

Icebergs

A água e os blocos de gelo que as geleiras lançam ao mar contribuem para aumentar o nível dos oceanos. Esse processo se acelera quando as grandes placas de gelo que estão na base se desprendem.

Dilatação

O principal fator para o aumento do nível dos oceanos é que eles estão esquentando – cerca de meio grau nos últimos 60 anos. Como qualquer coisa que esquenta, a água se dilata, expandindo o mar.

Invasões marinhas

Um mar mais alto invade praias e cidades, mas isso é só o começo. A elevação causa uma erosão das áreas costeiras, leva água salgada aos aqüíferos e causa sede, além de obrigar populações inteiras a se mudar.

NOVOS PADRÕES

Mudar a temperatura força o planeta a buscar um novo equilíbrio climático. Do fundo do mar ao topo da atmosfera, os cientistas estão vendo mudanças em correntes e desastres onde eles não eram esperados.

Austrália seca

Correntes úmidas vindas do oceano Pacífico costumavam cair sobre a Austrália e irrigar plantações. Mas, nos últimos 30 anos, ventos na região se aceleraram e agora as chuvas caem mais adiante, no meio do mar.

Ciclones até aqui

O aquecimento global pode ter esquentado as águas do Atlântico Sul a ponto de permitir que elas formem furacões. Em todo o mundo, a velocidade e a duração desses fenômenos aumentou 50% nos últimos 50 anos.

Europa fria

O aquecimento enfraquece uma corrente de água quente do Atlântico que segue em direção à Europa. Se ela parar completamente, em apenas 6 anos grande parte da Europa sofrerá invernos de 20 oC negativos.

SECAS E ENCHENTES

Dois dos maiores problemas. Além de trazer sede e fome, as secas podem levar pessoas e até países a conflitos pela água que resta. Já as enchentes estão entre as maiores causas de prejuízos por catástrofes naturais no planeta.

Falta de água

Quanto mais quente o clima, mais as plantas transpiram e mais a água presente no chão evapora. Dessa forma, as áreas afetadas por secas severas dobraram nos últimos 30 anos e já representam um terço do planeta.

Raios

A capacidade do ar de absorver água cresce junto com o calor e massas de ar mais úmidas formam mais raios. Um estudo sugeriu que 1 oC de aumento na temperatura eleva em 40% a quantidade de raios em latitudes iguais às da Europa e EUA.

Inundações

Uma hora, toda essa água acumulada nas nuvens tem de cair. Em um só dia, é possível ter a mesma quantidade de chuva de um mês inteiro. A tendência ao aumento de inundações têm sido observada em todos os continentes.

EXTINÇÕES

Até 37% das espécies do planeta estarão extintas até 2050 – e esta É uma estimativa otimista. ela não leva em conta a interação do clima com fatores como o desmatamento e barreiras para a migração, como estradas, cidades e plantações.

Ártico

Acossados pelo calor, os animais não têm para onde migrar em busca de frio. A previsão era de que até 2070 a região não teria mais neve no verão, mas depois de 4 anos de degelos recordes, acredita-se que o gelo acabará bem antes.

Corais

A base da alimentação dos corais é uma alga colorida que morre com uma pequena elevação na temperatura. Quando isso acontece, a área se torna branca e sem vida. Com esse efeito, o El Niño de 1998 exterminou um sexto dos corais do planeta.

Florestas

O aquecimento retira água do solo e faz as plantas transpirar mais, o que aumenta nelas a necessidade de água. A partir de um ponto, a floresta deixa de se adaptar ao ambiente e entra em colapso.

Pode parecer estranho, mas é mais fácil prever o clima no planeta inteiro do que em um só país. Para isso, é preciso não só saber os fatores que influenciam todo o mundo como calcular a interação deles com montanhas, florestas e cidades. Os cientistas já sabem que, na pior das hipóteses, a temperatura na América do Sul subirá entre 2 e 6 oC – limitar as emissõs de gases reduz o problema para entre 1 e 4 oC. A maior complicação é calcular como esse calor vai interferir no regime de chuvas no Brasil: cada programa de computador dá um resultado diferentes do outro. Mas tirando uma média entre as diferentes previsões, os cientistas conseguem ter uma idéia razoável de como ficarão o clima e os ecossistemas por aqui. “A tendência é que uma vegetação substitua a outra: floresta vira cerrado, cerrado vira caatinga e caatinga vira semi-deserto”, diz Carlos Nobre, do CPTEC.

Savana Amazônica

O aquecimento global e o desmatamento na Amazônia tendem a tornar o clima da região mais quente e seco. Isso levará a uma vegetação típica do cerrado, com vegetação adaptada a períodos sem chuvas e a muitos incêndios. As florestas sobrevivem apenas no extremo oeste.

Sem cerrado

Um estudo realizado no Centro Hadley, na Inglaterra, analisou 138 espécies de árvores do cerrado e concluiu que as mudanças climáticas podem levar 24% delas à extinção até 2050. Muitas regiões podem ganhar características semelhantes às da caatinga.

Deslizamentos

Com mais vapor na atmosfera, a população sofrerá ainda mais com enchentes, inundações e deslizamentos, principalmente nas serras do Mar e da Mantiqueira. O problema fará mais vítimas, no entanto, em centros urbanos como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Paulo, Recife e Salvador.

Outras plantações

Um possível aumento de 5,8 oC acabaria com as plantações de café de Goiás e com 97% das de São Paulo e Minas Gerais. “O clima do sudeste pode se tornar igual ao da Bahia, o que obrigaria à plantação de culturas como coqueiros e caju na região”, diz Hilton Silveira Pinto, da Unicamp.

Semi-desertos

Os cenários até prevêem uma elevação das chuvas, mas isso pouco importa. O calor vai aumentar tanto a evaporação que lagos e açudes se tornarão ainda mais secos. A vegetação da caatinga ficará mais pobre, algumas áreas se tornarão semi-desertos e a agricultura será ainda mais difícil.

Invasão marinha

O aumento do nível do mar atacará especialmente o Nordeste, onde as praias são pouco inclinadas e afundam suavemente. “Quando o mar se eleva, a erosão nesse tipo de costa é muito maior”, diz o oceanógrafo Dieter Muehe, da UFRJ. Recifes e falésias protegerão alguns lugares.

Chuva e nova vegetação

El Niños mais intensos aumentarão as chuvas no sul do Brasil. Com mais calor e umidade, a região ganhará uma vegetação parecida com a da Mata Atlântica, um pouco mais pobre por conta da diferença de solo. Já as típicas araucárias resistirão, quando muito, só nas partes mais altas e frias.

Furacões

Em março de 2004, o furacão Catarina atingiu a costa da Região Sul com ventos de 150 km/h. Foi inédito na região. É possível que seja fruto do aquecimento – e apenas o primeiro de muitos. Se comprovado, as construções na região precisarão ser reforçadas daqui em diante.

Ninguém sabe quanto de carbono estaremos emitindo daqui a 50 anos. Analisando várias estimativas, Stephen Pacala e Robert Socolow, ambos da Universidade Princeton, EUA, concluíram que o crescimento da economia elevará as emissões do planeta à desastrosa quantidade de 14 bilhões de toneladas métricas por ano. Eles calculam que diminuir essas emissões pela metade colocaria o planeta em um patamar mais ou menos seguro, e fizeram um levantamento das propostas para cortar as emissões. Cada uma das 11 medidas abaixo pode eliminar 1 bilhão de toneladas e, portanto, basta atingir 7 delas para controlar a situação. Quais você acha mais viáveis? Só uma dica: realizar uma proposta dificulta as outras. Quanto mais energia vier de meios limpos, por exemplo, menos impacto terão as campanhas para reduzir o consumo. Difícil, não?

Solução

Aumentar a eficiência dos automóveis

Diminuir o uso de automóveis

Prédios com iluminação, resfriamento e aquecimento mais eficientes

Trocar usinas elétricas a carvão por outras a gás natural, que emite apenas metade do carbono

Capturar o carbono e enterrá-lo em poços profundos

Energia nuclear

Energia eólica

Painéis solares

Usar biocombustíveis, como o álcool

Aumentar a área de florestas

Obstáculo

Automóveis grandes e pouco eficientes viraram moda

Falta, algumas vezes, um bom transporte público e, em outras, disposição para deixar o carro em casa

As técnicas já são bem conhecidas, mas não há muitos incentivos para investir nelas

Há outras indústrias – do aquecimento ao transporte – disputando o gás natural

A técnica é pouco testada e existe ainda um alto risco de vazamentos, que podem ser catastróficos

Gera muito lixo nuclear e é um possível alvo para terroristas

O único problema é a poluição visual. Por outro lado, os terrenos das usinas podem ser usados para várias outras coisas

Ainda é uma maneira cara de gerar energia

Disputa terra com áreas de reflorestamento e com outros tipos de plantações

Florestas disputam terra com as plantações, mas têm o benefício extra de aumentar a biodiversidade

Para atingir o objetivo*, seria preciso…

Dobrar a eficiência de todos os automóveis do planeta, assumindo que o número de carros em 2054 chegará a 2 bilhões (4 vezes o atual)

Diminuir pela metade o número de quilômetros rodados por dia em todos os carros do mundo

Diminuir em um quarto as emissões dos prédios

Que o número de usinas a gás seja 4 vezes o de hoje

Criar 3 500 projetos iguais ao maior existente hoje

Dobrar o número de usinas nucleares existentes

Aumentar 50 vezes a quantidade de usinas eólicas de hoje. Ao final, elas ocupariam uma área de 30 milhões de hectares, um pouco maior do que o estado do Tocantins

Aumentar 700 vezes o número de painéis no mundo. Ao final, a área ocupada seria de 2 milhões de hectares, ou entre 2 e 3 m2 de espaço ao sol por pessoa

Aumentar em 100 vezes a quantidade de álcool que o Brasil produz, o que significaria ocupar uma sexto das áreas cultiváveis do mundo

Eliminar o desmatamento das florestas tropiycais e replantar 250 milhões de hectares, o equivalente aos estados do Amazonas e Mato Grosso somados.

*Eliminar 1 bilhão de toneladas métricas de carbono.

Boiling Point – Ross Gelbspan, Perseus, EUA, 2004

www.presidencia.gov.br/secom/nae – Caderno sobre as mudanças climáticas do Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República

http://www.newscientist.com/channel/earth/climate-change – New Scientist – Climate change

http://www.centroclima.org.br – Site do Centro Clima, da UFRJ

Empregos dependem do cuidado com o ambiente

Filha do criador do Dia da Terra pede mais consciência

“Atravessamos um período difícil na economia nos últimos 18 meses, e os desafios continuam. A perspectiva de mais turbulência econômica e desemprego levam algumas pessoas – economistas, políticos, empresários e cidadãos – a afirmar que não podemos nos dar ao luxo de proteger o ambiente agora. Mas é um erro pensar deste jeito, como era um erro há 40 anos”, escreve Tia Nelson no Milwaukee Journal Sentinel. Ela é filha do ex-senador Gaylord Nelson, que criou o Dia da Terra em 1970.

“Leiam o que meu pai disse em 1995, vinte e cinco anos depois do primeiro Dia da Terra: Nós ouvimos com freqüência de empresários e economistas que são a favor do ambiente, desde que isso não custe empregos. Isto mostra uma falha em entender a íntima conexão entre ambiente e economia. Para administrarmos nossa economia com inteligência, há que se entender que os empregos estão inextricavelmente ligados ao ambiente, e totalmente dependentes dele.”

Fonte: http://planetasustentavel.abril.com.br/blog/planetaurgente/empregos-dependem-cuidado-ambiente-231749_post.shtml

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A Terra ardente

lovelock1Num artigo apavorante e ao mesmo tempo esclarecedor, James Lovelock, renomado cientista especializado em análises ambientais, adverte:
“A Terra está entrando em um estado febril que pode durar mais de 100 mil anos”.

POR JAMES LOVELOCK
FOTOS: GREENSPEACEImagine um policial novato extremamente entusiasmado com o cumprimento de seu dever. Imagine agora que ele tenha de dizer a uma família que seu filho foi brutalmente assassinado a pauladas. Ou então, pense em um médico que recebe a incumbência de lhe dizer que você tem um tumor maligno em metástase. Os médicos e policiais sabem que algumas pessoas aceitam a verdade com dignidade. Mas também sabem que outras tentarão negá-la veementemente, mesmo sabendo que isso não mudará a realidade.
Sejam quais forem as reações, sem dúvida, dar notícias ruins é sempre uma tarefa difícil. Nós nos sentimos aliviados quando é um juiz quem dá uma sentença de pena de morte. Afinal, temos o conforto de ao menos saber que essa decisão tem uma justificativa moral. Já os médicos e os policiais não têm nenhuma válvula de escape ao cumprir seus deveres. Por essa mesma razão, esse é, para mim, o artigo mais difícil que eu já tive de escrever.
mat_capa_05A hipótese que desenvolvi, conhecida como Teoria de Gaia, entende a Terra como um super-organismo vivo. Como tal, esse organismo pode desfrutar de boa saúde ou simplesmente adoecer.A Teoria de Gaia fez de mim um médico planetário e o que faço aqui é uma séria análise técnica. Nesse momento, tenho a obrigação profissional de trazer uma má notícia a vocês: os centros de análises climáticas em todo o planeta, que são os equivalentes aos laboratórios de patologia dos hospitais, analisaram as condições físicas da Terra e constataram que ela sofre de uma grave doença. Ela está a ponto de contrair uma febre fatal que poderá durar cerca de 100 mil anos.

Como médico, devo dizer a você, que é membro dessa grande família chamada Terra, que toda a sua civilização está correndo um grave perigo.

Nos últimos três bilhões de anos nosso planeta manteve-se saudável e apto a permitir o desenvolvimento da vida de modo natural. Mas nós poluímos e arranhamos em excesso esse paciente, e o fizemos num momento em que o Sol está superaquecido. Assim, provocamos em Gaia uma febre que agora está se transformando em estado de coma. A Terra já passou por uma situação trágica como essa e demorou mais de 100 mil anos para se recuperar. Nós somos responsáveis por essa nova onda febril e sofreremos duramente as suas conseqüências.

mat_capa_04Se continuarmos nesse ritmo que conduz ao desequilíbrio ambiental, ainda neste século, a temperatura se elevará em cerca de 8 graus Celsius nas regiões temperadas e 5 graus Celsius nos trópicos. Grande parte da massa tropical da Terra se tornará deserta, limitando ainda mais os seus mecanismos de auto-regulação. Some-se a isso o fato de que já devastamos 40% de sua superfície com as atividades industriais e agropecuárias e as perspectivas se tornam ainda mais sombrias. Curiosamente, a poluição causada pelo uso de aerossóis no Hemisfério Norte reduz o aquecimento global ao criar uma camada que reflete a luz solar de volta ao espaço. Esse “escurecimento global” é transitório e poderá desaparecer em pouco tempo, deixando-nos inteiramente expostos ao calor da estufa global. Nesse momento, vivemos um clima enganoso, que é mantido acidentalmente fresco pela camada de poluentes. Porém, o desenlace mais provável é que bilhões de pessoas morrerão antes do final do século 21. Os únicos sobreviventes serão os povos que habitam a região do Ártico, onde o clima ainda permanecerá tolerável. Nós não estamos percebendo que a Terra regula sintomaticamente seu clima e sua composição. Estamos cometendo um erro gravíssimo ao tentar cuidar, nós mesmos, dessa tarefa, como se estivéssemos no comando desses mecanismos reguladores altamente complexos.

Essa tentativa descabida nos condena ao pior tipo de escravidão.
Se nos elegermos como administradores do planeta, automaticamente nos tornaremos responsáveis por manter sua atmosfera, oceanos e superfícies sempre favoráveis à vida. Logo descobriremos que essa é uma tarefa impossível de ser realizada. Afinal, temos retribuído com devastação desenfreada a todas as comodidades que o planeta nós tem graciosamente oferecido por milênios.
Para compreender como essa tarefa é impossível, pense como você, caso estivesse gravemente adoecido, poderia regular sua própria temperatura ou a composição de seu sangue sem ajuda médica. Pessoas que têm rins debilitados conhecem bem a interminável dificuldade diária de ajustar equilibradamente as entradas de água, sal e proteínas no organismo. O apoio tecnológico da diálise pode até ajudar, mas está longe de se comparar com a qualidade garantida por rins que funcionam saudavelmente.

mat_capa_03Em meu novo livro, A Vingança de Gaia, faço uma extensa análise dessas questões. No entanto, você ainda pode estar se perguntando: “Por quê a ciência demorou tanto tempo para reconhecer a verdadeira natureza da Terra?”
Acredito que seja porque a visão de Darwin foi tão clara e tão bem elaborada que, até hoje, estamos assimilando os seus conceitos. Contudo, vale lembrar que, quando ele desenvolveu a Teoria da Evolução das Espécies, o conhecimento sobre a química da atmosfera e dos oceanos ainda era muito limitado. Darwin não dispunha de informações suficientes para saber que os organismos vivos tanto podem se adaptar ao meio ambiente como podem, também, provocar alterações nele.
Se Darwin soubesse que a vida e o meio ambiente estão conectados de maneira tão íntima, ele veria que a evolução envolve não apenas os organismos vivos, mas a superfície planetária como um todo.

Nós vimos a Terra do espaço e, lá de cima, pudemos percebê-la como um organismo vivo. Sabemos que não podemos poluir o ar ou usar a superfície terrestre – os ecossistemas de suas florestas e oceanos – como uma mera fonte de produtos para nos alimentar e fornecer mais conforto. Sabemos instintivamente que esses ecossistemas devem ser preservados porque fazem parte da Terra viva. Sendo assim o que deveríamos fazer? Primeiramente, temos de nos conscientizar do ritmo acelerado em que as mudanças ambientais estão ocorrendo. E também de como temos pouco tempo para agir se quisermos evitar o pior. Diante da urgência desse quadro, cada comunidade e cada nação devem fazer o melhor uso de seus recursos para garantir a sobrevivência da civilização pelo maior tempo possível. A civilização é movida à energia e nós não podemos simplesmente desligá-la. Portanto, necessitamos de uma redução de consumo em bases seguras. Devemos ser conscientes de que devemos pensar na humanidade como um todo e não apenas em nós mesmos.

A mudança ambiental é global, mas cada região do globo tem suas particularidades. Eu, por exemplo, moro na Inglaterra. Nós, cidadãos britânicos, temos de tratar das conseqüências aqui no Reino Unido. Infelizmente, temos tantas áreas urbanizadas em nossa nação que hoje somos praticamente uma única grande cidade. Restaram pouquíssimas áreas para a agricultura e para a preservação das florestas.

Assim, nós ingleses, dependemos do mundo para sobreviver. A mudança climática irá nos negar as fontes de alimento e de combustível que vêm de outros países. Na Inglaterra, podemos até crescer mantendo um nível de consumo como o que adotamos durante a Segunda Guerra Mundial. Mas chega a ser ridícula a idéia de que meu país tem terra suficiente para produzir biocombustíveis ou para implantar fazendas movidas à energia eólica.

Tenho certeza de que nós, ingleses, faremos de tudo para sobreviver. Mas infelizmente não vejo os Estados Unidos ou as grandes economias emergentes, como a China e a Índia, voltando no tempo. O pior é que sabemos que esses países são os que mais emitem gases na atmosfera. A catástrofe irá ocorrer e os sobreviventes terão de se adaptar a um clima infernal. O mais triste de tudo é que Gaia perderá muito mais do que nós. Não serão apenas animais selvagens e ecossistemas inteiros que irão desaparecer: desaparecerão também preciosos recursos necessários ao desenvolvimento da civilização.
Na nossa relação com a Terra, não somos meramente uma doença. Com nossa inteligência e nossa capacidade de comunicação, somos o sistema nervoso do planeta. Através de nós, Gaia foi vista do espaço e ganhou consciência de seu lugar no Universo. Devemos, portanto, ser o coração e a mente da Terra e não a sua doença. Teremos de ser fortes e parar de pensar unicamente em nossos direitos e necessidades. Precisamos tomar consciência de que prejudicamos a vida na Terra e temos de fazer as pazes com Gaia. Devemos fazer isso enquanto ainda somos fortes o bastante para negociar, e não quando formos hordas descabeçadas, conduzidas por brutais Senhores da Guerra. Sobretudo, devemos recordar que somos parte da Terra e que ela é, antes de mais nada, o nosso lar.

Fonte: http://www.terra.com.br/revistaplaneta/edicoes/414/mata_414.htm

 

terra2Não há mais tempo para desenvolvimento sustentável, afirmam pesquisadores

Pesquisador em meteorologia pelo Insituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Meteorologia, Prakki Satyamurty defende que o mundo adote outro caminho para reverter o quadro de destruição do meio ambiente que tem como conseqüência as mudanças climáticas.
Para ele, o desenvolvimento sustentável já não é o caminho mais aconselhável para a reversão desse quadro. A saída agora, segundo Satyamurty, seria a retirada sustentável, ou seja, a diminuição drástica do consumo de recursos naturais, aliada a um controle de natalidade que levasse a um crescimento menos acelerado do número da população mundial.
Ao falar sobre o tema escolhido pela Organização Meteorológica Mundial para marcar o Dia Mundial Meteorologia de 2009 – Tempo, clima e ar que espiramos  – o pesquisador disse que a capacidade do planeta Terra de suportar o uso que se faz dos recursos naturais está cada vez mais limitada.
Por isso, Satyamurty defende que o consumo de recursos naturais deveria ser menor ou igual à reposição dessas riquezas ambientais na natureza. Segundo ele, a exploração dos recursos naturais pela população mundial já ultrapassou a capacidade de oferta do meio ambiente em escala global.
“Já passou o tempo do desenvolvimento sustentável. Agora é tempo de fazer uma retirada sustentável, ou seja, temos que retirar, gradativamente, por exemplo, o número de automóveis das ruas. Tudo o que foi colocado em excesso e hoje contribui para a destruição do meio ambiente precisa sair de cena. Esse é um assunto muito polêmico, mas as autoridades precisam parar e pensar em tudo o que está acontecendo. O mundo tem que mudar para melhor”, observou.
Satyamurty participou, neste semana, da programação realizada pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA) em alusão ao Dia Mundial da Meteorologia, comemorado em 23 de março.
Em palestra a estudantes da universidade, o pesquisador polemizou as estratégias pensadas em escala mundial para lidar com os diversos problemas causados pelas mudanças  climáticas, como a falta de água. Segundo ele, a população mundial quadruplicou em 50 anos e o aumento da temperatura da superfície terrestre, do nível dos oceanos, bem como a poluição de todos ambientes são as principais conseqüências desse crescimento populacional.
“Com o aumento da população mundial, a diminuição das áreas de floresta e de espécies animais é inevitável. Mais áreas de lavoura, pastos e gado. Tudo isso provocou aumento de gás carbônico, gás metano e aumento substancial da temperatura na Terra”, relatou.
Ainda de acordo com o pesquisador indiano, assim como foi criado o mercado do crédito de carbono, também deveria existir o crédito de população. Para ele, outra missão das autoridades é o reflorestamento.
“Todo país que estivesse crescendo demais deveria pagar por isso. Seria um incentivo à redução das populações e um benefício para o meio ambiente como um todo porque o planeta não agüenta mais essa situação.”
Na avaliação do chefe da divisão de Meteorologia do Centro Técnico Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam) no Amazonas, Ricardo
Delarosa, é incontestável que o desenvolvimento e o progresso geram perturbações e degradações nos sistemas naturais. Contudo, ele ponderou que o grande problema das nações não é a falta de alimentos, mas a distribuição imperfeita desses recursos alimentares.
“Entendo que o que está acontecendo é uma distribuição desigual das riquezas e recursos. A população cresceu bastante, mas a produção de alimentos também cresceu”, disse.
Com relação à polêmica avaliação de Satyamurty sobre a retirada sustentável, Delarosa ponderou que não existe maneira de desenvolver sem degradar de alguma forma. Para ele, a redução da população seria uma das alternativas existentes.
“Eu entendo que o desenvolvimento sustentável é um paradoxo. Não vejo como desenvolver e, ao mesmo tempo, ter sustentabilidade, pelo menos não do ponto de vista da conservação dos sistemas naturais como a gente os conhece hoje. Temos que trabalhar para minimizar esse custo que é um ônus imposto à natureza. Na minha opinião, é preciso haver uma conscientização de que é preciso distribuir melhor os recursos e as riquezas. Acho que isso seria mais efetivo do ponto de vista de preservar mais o ambiente que a gente vive”, concluiu. (Fonte: Amanda Mota/ Agência Brasil). Fonte: http://noticias.ambientebrasil.com.br/noticia/?id=44611__________________________________________________________
 

Desmatamento da Mata Atlântica pode ter contribuído para tragédia em SC.

Fonte Gazeta do Povo – Caderno: Vida e Cidadania – Segunda-feira, 01/12/2008deslizamento2O desmatamento da Mata Atlântica pode ter contribuído para a tragédia causada pelas chuvas em Santa Catarina. É o que avalia o professor do departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina, Lino Brangança Peres. “As árvores foram substituídas por casas e vegetação rasteira, o que contribuiu para a erosão. Esses deslizamentos aconteceriam mais cedo ou mais tarde, as fortes chuvas desses dois meses apenas aceleraram esse processo”, explica.

A floresta cobria uma área de aproximadamente 1,29 milhão de km², em 17 estados brasileiros, incluindo Santa Catarina. O bioma ocupava cerca de 15% do território nacional. Atualmente, apenas 7% desse total permanece intacto.

O desmatamento da Mata Atlântica está diretamente ligado expansão das cidades brasileiras. E, na opinião do professor, o ocupação desordenada dos municípios pode ser outro fator para a catástrofe no Vale do Itajaí. “Choveu muito acima da média, mas isso é apenas parte do problema.

O modelo de ocupação irregular das cidades do Vale do Itajaí contribuiu para que isso acontecesse. E tudo com a conivência do poder público”, explica o professor. Segundo Peres, as primeiras residências na região surgiram durante o século 19, época da imigração de europeus para o Brasil, próximas aos rios.

No século 20, as pessoas passaram a ocupar os morros e encostas. O planejamento municipal começou muito tarde no Brasil, na década de 70, quando as cidades já tinham crescido, conta. A solução, na avaliação do urbanista, é o governo realocar a população dos morros e encostas para outros locais mais seguros. O problema é que boa parte das áreas adequadas já foram ocupadas ressalta.

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Pesquisas recentes indicam que está ocorrendo uma mudança nos padrões climáticos de SC.

129_2319-floripachuva1Fonte: Agência Globo – Publicação: 28/11/2008 10:06    Pesquisas recentes produzidas em Santa Catarina indicam que está ocorrendo uma mudança nos padrões climáticos do estado. Desde 2006, os levantamentos trazem evidências de um aumento das chuvas torrenciais, e, ao mesmo tempo, dos períodos de seca. Os efeitos detectados em Santa Catarina são compatíveis com o aquecimento global, somados a outros dois fatores, já comprovados: o crescimento urbano desordenado e o desmatamento.“O que estamos vendo em Santa Catarina é um espelho do futuro das nossas cidades. E as indicações são de extremos de chuvas torrenciais e grandes secas”, avaliou o cientista Carlos Nobre, do Inpe (Instituto de Pesquisas Aeroespaciais) e coordenador dos estudos sobre as mudanças climáticas no país.

De acordo com Nobre, ainda não há estudos no Brasil que permitam aos cientistas colocarem definitivamente “o dedo na ferida” sobre o aquecimento global, mas as evidências já são fortes: “Seriam necessários estudos com dados de 100 anos e temos de metade disso. Mas já é possível dizer que se o aquecimento continuar, as cenas de Santa Catarina serão muito repetidas”, disse.

Segundo Nobre, o crescimento desordenado, com a ocupação de áreas de risco, e o desmate, principalmente de encostas, deve ainda ser somado ao fenômeno climático em si e às evidências do aquecimento global.

Um dos estudos, desenvolvido pelo Centro de Informações de Recursos Ambientais de Hidrometereologia de Santa Catarina (Epagri/Ciram), sobre os impactos das mudanças climáticas, mostra que a temperatura subiu até 3ºC em várias cidades do estado, e previa chuvas torrenciais intensas, entremeadas por períodos de seca.

Já o engenheiro agrônomo e ex-secretário de Agricultura de Santa Catarina, Glauco Olinger, consultor do Epagri, fez um levantamento sobre os últimos 50 anos e revelou que neste período, não houve alteração na quantidade de chuvas (média anual de 1.800 mm no litoral, 1.500 mm nos campos e 2.000 mm no Oeste catarinense), mas sim na freqüência e na intensidade. Ele também constatou que os períodos de seca ficaram mais agudos. A expectativa é de uma seca mais aguda entre dezembro e fevereiro em Santa Catarina.

“Os períodos das chuvas estão mudando e elas têm se concentrado mais. Nos últimos 10 anos isso tem se acentuado. Já estamos defendendo um programa de irrigação agrícola para contornar os efeitos disso na agricultura. Nossa perspectiva é de que essa situação piore. Estatística e probabilisticamente avaliamos que esses desastres devem se ampliar”, disse Olinger, para quem o aquecimento global está ligado ao fenômeno, assim como o desmatamento e o crescimento desordenado das cidades.

O climatologista do Ciram Daniel Calearo avalia que faltam mais pesquisas sobre o aquecimento global e seus efeitos diretos. Ele pondera que, no entanto, a tragédia no estado já tem duas causas comprovadas: o desmatamento e a ocupação irregular do solo.
“Foram mais de 900 milímetros de chuvas em 20 dias, quando o normal neste período seriam 100 milímetros neste período. Pode ser um fenômeno cíclico também, mas também não pesquisas que comprovem isso”, disse.

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Um Movimento Democrático Global está prestes a estourar.

De Paul Hawken, Orion Magazine – www.alternet.org/story/51088 Ao longo dos últimos quinze anos tenho oferecido perto de mil palestras sobre o ambiente. Depois de cada palestra um pequeno grupo de pessoas se junta para conversar, perguntar, e trocar cartões de visita. Estas pessoas oferecendo os seus cartões trabalham nos assuntos mais pertinentes aos nossos dias: mudança de clima, pobreza, desmatamento, paz, água, fome, conservação, direitos humanos e mais. São  do mundo das ONG´s também conhecido como a sociedade civil. Cuidam de rios e baias, educam os consumidores sobre a agricultura sustentável, colocam painéis solares em casas, fazem “lobbies” nos governos estaduais sobre poluição, enfrentam  políticas de comércio favoráveis às corporações, se esforçam a tornar verdes as favelas, ou ensinam as crianças sobre o ambiente. Simplesmente, estão tentando resguardar a natureza e garantir a justiça.Depois de uma viagem de uma semana ou duas, voltava com centenas destes cartões enfiados em vários bolsos. Eu arrumava-os na mesa da minha cozinha, lia os nomes, olhava os logotipos, imaginava as missões e ficava admirado a ver o  que um grupo pode fazer a favor de outro. Depois, os colocava em gavetas ou sacos de papel, lembranças daquela viagem. Não conseguia jogá-los fora.Ao longo dos anos os cartões se amontoavam, chegando aos milhares, e quando olhava aquelas sacolas no meu armário, chegava a me perguntar: alguém sabe quantos de tais grupos existem? No começo, era questão de curiosidade, mas lentamente comecei a desconfiar que alguma coisa maior estava acontecendo, um movimento social significativo  que estava escapando o radar da cultura vigente.

Comecei a contar. Olhava os dados governamentais de diversos paises e, utilizando diversos métodos para aproximar-me do número de grupos ambientais e de justiça social a partir de dados de censo para impostos, eu inicialmente estimava que tinham umas trinta mil organizações ambientalistas no mundo, quando acrescentava justiça social e organizações indígenas, o número ultrapassava cem mil. Eu então pesquisei movimentos sociais do passado para ver se tinha algum igual em escala e escopo, mas não encontrei nada.

Quanto mais pesquisava, mais eu descobria e os números continuavam a aumentar. Em levantar uma pedra descobri uma formação geológica. Descobri listas, índices, e pequenos bancos de dados específicos para certos setores ou áreas geográficas, mas nenhum conjunto de dados aproximou-se nem de longe a descrever o tamanho do movimento. Extrapolando dos arquivos acessados, me dei conta que o estimativo inicial de cem mil organizações estava errado por um fator de pelo menos dez. Agora achava que existem mais de um milhão de organizações trabalhando em prol de sustentabilidade ecológica e justiça social. Talvez dois.

Se for definir de uma forma convencional, isto não é um movimento. Os movimentos têm lideranças, ideologias. Você se torna membro de um movimento, estuda os propósitos e se identifica com um grupo.  Você lê a biografia do(s) fundador(es) ou os escuta em fita ou em pessoa.  Movimentos têm seguidores, mas este movimento não funciona assim., É disperso, sem formas definidas e ferozmente independente. Não há manifesto ou doutrina, nenhuma autoridade para verificar. Procurei um nome, mas não há.

Historicamente, os movimentos sociais surgiram primariamente por causa de injustiças, desigualdades e corrupção.  Estes males continuam presentes, mas uma nova condição existe que não há precedente: o planeta está com uma doença que ameaça a vida e que é marcada por degradação ecológica maciça e mudança de clima súbita. Ocorreu-me que talvez eu estivesse vendo alguma coisa orgânica, se não biológica. Em vez de ser um movimento no sentido convencional, será que é uma resposta coletiva à ameaça? É fragmentado por razões que são inerentes ao seu propósito? Ou é simplesmente desorganizado? Mais perguntas seguiram. Como funciona? Qual a velocidade de crescimento? Como é conectado? Porque está sendo em geral ignorado? 

Depois de gastar anos pesquisando este fenômeno, inclusive criando com meus colegas uma banco de dados global destas organizações, tenho chegado à conclusão: este é o maior movimento social em toda a história, ninguém sabe do seu escopo.  Como funciona é mais misterioso do que aparenta.

O que fica aparente é conclusivo: dezenas de milhões de pessoas ordinárias e nem tão ordinárias assim dispostas a confrontar o desespero, o poder e dificuldades incalculáveis para restaurar algum semblante de graça, justiça e beleza a este mundo.

Clayton Thomas-Muller fala para um encontro comunitário da nação Cree sobre os lixões no seu território em Alberta, Canadá, lagos de despejos tóxicos tão grandes que podem ser vistos do espaço. Shi Lihong, fundadora do Wild China Films (Filmes da China Silvestre) faz documentários com seu marido sobre os migrantes deslocados pela construção de grandes represas. Rosalina Tuyuc Velásquez, membro do povo Maya-Kaquchikel, luta para que sejam responsabilizados os esquadrões da morte, que já mataram dezenas de milhares de pessoas na Guatemala. Rodrigo Baggio resgata computadores de Nova York, Londres, e Toronto e os instala em favelas do Brasil onde ele e seus funcionários ensinam habilidades de informática a crianças pobres. O biólogo Janine Benyus fala para mil e duzentos executivos num fórum de negócios em Queensland sobre desenvolvimento inspirado pela biologia. Paul Sykes, voluntário para  the National Audubon Society ( que luta em prol dos aves nos Estados Unidos) completa seu 52em Contagem de Pássaros de Natal em Little Creek, Virgínia, se juntando a cinqüenta mil outras pessoas que contam 70 milhões de pássaros em um único dia. Sumita Dasgupta lidera estudantes, engenheiros, jornalistas, agricultores e Adivasis ( povo tribal)  numa viagem a pé de dez dias através do Gujarat, explorando o renascimento de sistemas de captação de águas da chuva que está trazendo a vida de volta para áreas propensas à secas na Índia. Silas KpananÁyoung Siakor, que mostrou os elos entre a política genocidal do então presidente Charles Taylor e o desmatamento ilegal em Libéria, agora cria políticas de certificação de madeira sustentável.

Estas oito pessoas, que talvez nunca venham a se conhecer, fazem parte de uma coalizão composta de centenas de milhares de organizações sem centro, crenças codificadas ou líderes carismáticas. O movimento cresce e se alastra em cada cidade e país. Praticamente toda tribo, cultura, língua, e religião faz parte, desde os Mongóis até Uzbekianos até Tamils. É composto de famílias na Índia, estudantes na Austrália, agricultores na França, os sem terra no Brasil, os bananeiros de Honduras, os “pobres” de Durban, aldeões em Irian Jaya, tribos indígenas na Bolívia, e donas de casa no Japão. As lideranças são agricultores, zoólogos, sapateiros e poetas.

O movimento não pode ser dividido porque está fragmentado – pequenos pedaços com elos frouxos. Forma, se junta, e dissipa rapidamente. Muitos dentro e fora o desprezam por ser sem poder, mas já derrubou governos, companhias e lideranças através do testemunhar, informar e amassar.

O movimento tem três raízes básicas: Movimento para justiça ambiental e social, e a resistência de culturas indígenas contra a globalização – todos dos quais se entrelaçam. Surge espontaneamente de diferentes setores econômicos , culturas, regiões e agrupamentos, resultando num movimento global, sem classe, diverso , alastrando mundialmente sem exceção. Num mundo complexo demais para ideologias construtivas, a palavra movimento pode ser pequena demais , porque este é o maior agrupamento de cidadãos da história.

Têm institutos de pesquisa, agências de desenvolvimento comunitário, organizações baseados em povoados e cidadãos, corporações, redes, grupos baseados em crenças, fundações . Defendem contra políticos corruptos e mudança de clima, predação corporativa e morte dos oceanos, indiferença do governo e pobreza endêmica, formas industrializadas de agricultura e plantio de madeira, esgotamento do solo e da água.

Descrever o tamanho deste movimento é como tentar segurar o oceano na sua mão. É tão grande assim. Quando uma parte aparece, o iceberg abaixo fica invisível. Quando Wangari Maathai ganhou o Prémio Nobel da Paz, os serviços de notícias não mencionaram a rede de seis mil organizações diferentes de mulheres na África plantando árvores. Quando escutamos de um despejo químico num rio, nunca é mencionado que quatro mil organizações nos Estados Unidos adotaram um rio, riacho ou córrego. Podemos ler que a agricultura orgânica é o setor de maior velocidade de desenvolvimento nos Estados Unidos, Japão, México e Europa, mas nenhuma conexão é feita com as mais de três mil organizações que educam agricultores, fregueses e legisladores sobre a agricultura sustentável.

É a primeira vez na história que um enorme movimento social não se juntou por volta de um “ismo”. O que junta são idéias e não ideologias. A maior contribuição deste movimento é a ausência de uma idéia grande: no seu lugar oferece milhares de idéias práticas e úteis. No lugar dos “ismos” são processos, preocupações, e compaixão. O movimento demonstra um lado flexível, ressonante e generoso da humanidade.

Não é possível de definir. As generalidades são em grande parte imprecisas. É não-violento e de base; não tem bombas, exércitos nem helicópteros. Um vertibrado macho carismático não está no comando. O movimento não concorda em tudo  e nunca concordará, porque isto seria uma ideologia. Mas compartilha um conjunto básico de compreensões fundamentais sobre a Terra, como funciona, e a necessidade de justiça e igualdade para todos os povos que participam nos sistemas do sustento da vida no planeta.

Este movimento sem nome promete oferecer soluções parta o que parecem ser dilemas insolúveis: pobreza, mudança de clima global, terrorismo, degradação ecológico, polarização da renda, perda de cultura. Não é atrapalhado com síndrome de tentar salvar o mundo: está tentando refazer o mundo.

É feroz. Não existe outra explicação para a coragem crua e o coração visto repetidas vezes nas pessoas que marcham, falam, criam, resistem e constroem. É a ferocidade do que significa saber que somos humanos e queremos sobreviver.

Este movimento não desiste e está sem medo. Não pode ser pacificado, amenizado ou oprimido. Não haverá um momento “Muro de Berlim”, nenhuma  assinatura de trégua, nenhuma manhã para acordar para o momento quando os super-poderes abandonam. O movimento continuará nas suas formas diversas. Não descansará. Não haverá nenhum Marx, Alexandre ou Kennedy. Nenhum livro pode explica-lo nenhuma pessoa pode representa-lo nenhuma palavra pode engloba-lo, porque o movimento é o testamento vivo e sentiente do mundo vivo.

Acredito que prevalecerá. Não quero dizer conquistar ou causar danos a alguém. E não estou fazendo esta previsão como oráculo. Quero dizer que o pensamento que informa a mente do movimento – de criar uma sociedade condutiva à vida na Terra – reinará. Ela logo permeará a maioria das instituições. Mas até lá, mudará um número suficiente de pessoas para começar a reverter séculos de auto-destruição desenfreada.

A inspiração não é conhecida de litanias do que é defeituoso; reside na vontade da humanidade de restaurar, reformar, recuperar, reimaginar e reconsiderar. Curando as feridas da Terra e do seu povo não requer santidade ou um partido político. Não é uma atividade liberal ou conservadora. É um ato sagrado.

Paul Hawken é  empreendedor e ativista social morando na Califórnia. Este artigo é tirado do livro Blessed Unrest, a ser publicado pelo Viking Press, e é utilizado com permissão.

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Um Oceano de plástico.

Durabilidade, estabilidade e resistência a desintegração. As propriedades que fazem do plástico um dos produtos com maiores aplicações e utilidades ao consumidor final, também o tornam um dos maiores vilões ambientais. São produzidos anualmente cerca de 100 milhões de toneladas de plástico e cerca de 10% deste total acabam nos oceanos, sendo que 80% desta fração vem de terra firme.No oceano pacífico há uma enorme camada flutuante de plástico, que já é considerada a maior concentração de lixo do mundo, com cerca de 1000 km de extensão, vai da costa da Califórnia, atravessa o Havaí e chega a meio caminho do Japão e atinge uma profundidade de mais ou menos 10 metros . Acredita-se que haja neste vórtex de lixo cerca de 100 milhões de toneladas de plásticos de todos os tipos.
Pedaços de redes, garrafas, tampas, bolas , bonecas, patos de borracha, tênis, isqueiros, sacolas plásticas, caiaques, malas e todo exemplar possível de ser feito com plástico. Segundo seus descobridores, a mancha de lixo, ou sopa plástica tem quase duas vezes o tamanho dos Estados Unidos. 
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O oceanógrafo Curtis Ebbesmeyer, que pesquisa esta mancha há 15 anos compara este vórtex a uma entidade viva, um grande animal se movimentando livremente pelo pacifico. E quando passa perto do continente, você tem praias cobertas de lixo plástico de ponta a ponta.

Tartaruga deformada por aro plástico 



A bolha plástica atualmente está em duas grandes áreas ligadas por uma parte estreita. Referem-se a elas como bolha oriental e bolha ocidental. Um marinheiro que navegou pela área no final dos anos 90 disse que ficou atordoado com a visão do oceano de lixo plástico a sua frente. ‘Como foi possível fazermos isso?’ – ‘Naveguei por mais de uma semana sobre todo esse lixo’.
Pesquisadores alertam para o fato de que toda peça plástica que foi manufaturada desde que descobrimos este material, e que não foram recicladas, ainda estão em algum lugar. E ainda há o problema das partículas decompostas deste plástico. Segundo dados de Curtis Ebbesmeyer, em algumas áreas do oceano pacifico podem se encontrar uma concentração de polímeros de até seis vezes mais do que o fitoplâncton, base da cadeia alimentar marinha.

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Segundo PNUMA, o programa das nações unidas para o meio ambiente, este plástico é responsável pela morte de mais de um milhão de aves marinha todos os anos. Sem contar toda a outra fauna que vive nesta área, como tartarugas marinhas, tubarões, e centenas de espécies de peixes.

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E para piorar essa sopa plástica pode funcionar como uma esponja, que concentraria todo tipo de poluentes persistentes, ou seja, qualquer animal que se alimentar nestas regiões estará ingerindo altos índices de venenos, que podem ser introduzidos, através da pesca, na cadeia alimentar humana, fechando-se o ciclo, na mais pura verdade de que o que fazemos à terra retorna à nós, seres humanos.

Fontes: The Independent, Greenpeace e Mindfully 

Ver essas coisas sempre servem para que nós repensemos nossos valores e principalmente nosso papel frente ao meio ambiente, ou o ambiente em que vivemos.

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Floripa Já Era

 Fonte: www.anacorina.com.brEste post não é pra ser bonitinho ou engraçadinho. É um desabafo e um ‘se liga na fita‘ de quem chora por dentro praticamente todos os dias ao assistir Floripa indo ladeira abaixo apesar de ainda ser uma cidade realmente melhor do que muitíssimas outras Brasil e mundo afora. O triste é ver que não há freios nesta descida, só acelerações.
Para quem é de fora e vive na ilusão de que Floripa é o paraíso em terra ou acredita em mentiras descaradas do tipo “só a cabecinha”, por favor considere que:
  • Os índices divulgados de violência na cidade só não são maiores porque várias pessoas nem mesmo chegam a registrar Boletim de Ocorrência ou porque, quando o fazem, têm seus relatos de sequestros relâmpagos registrados como “roubo” e por aí a coisa segue;
  • Floripa é a capital do Estado que reelegeu como Governador um dos maiores e mais descarados destruidores da Natureza e que nem com as enchentes/desabamentos de 2008 aprendeu alguma lição (favor ler as duas matérias ao fim deste post);
  • A cidade é uma das que pratica a indefensável, cruel e inadmissível Farra do Boi;
  • Moro no João Paulo, um bairro que antes chamava-se Saco Grande, mas que depois de ser retalhado e vendido, teve seu plano diretor alterado porque rico não mora em ‘saco’ nenhum e também para permitir que prédios enormes fossem construídos. Falta água & rede de esgoto, mas tudo bem, eles têm dinheiro e compram água e o que mais for necessário, inclusive políticos;
  • Nossos morros têm cada dia mais favelas e menos espaço;
  • O trânsito já está para lá de insuportável (ao menos para quem já era daqui e estava acostumado com uma cidade calma) há tempos;
  • Eu já fui assaltada à mão armada e mantida refém em plena Trindade às 16:50, já tive o som do meu carro furtado duas vezes (uma delas quase em frente à sede da Zona Azul, no meio da tarde) e a casa uma vez (durante o dia). Eu, só eu. Se eu for contar tudo que já aconteceu com conhecidos e conhecidos dos conhecidos, não vai ter blog suficiente, mas não resistindo a só mais um: o som do carro do marido foi roubado no nosso quintal, conosco em casa, de dia, com alarme o tudo, só não tinha a cachorrada ainda;
  • Temos dois shoppings construídos em áreas de mangue e acusados de impactar o ecossistema local, mais a operação Moeda Verde entalada na garganta e que não deu em praticamente nada e, se eu for por este lado, também não vai haver blog suficiente pra tanta denúncia;
  • Há dezesseis anos eu andava a pé por essa cidade fosse qual fosse o horário sem o menor medo de nada, o pior que podia me acontecer era chover e eu não estar com sombrinha. Hoje…;
  • Etc.
Então, meu povo, antes de correr a morar em Floripa, (muito) devagar com o andor. Os serviços aqui são majoritariamente uma bela bosta, não há empregos decentes sobrando, você não vai conseguir torrar a derme na praia sem passar muito, muito, muito tempo em filas e por aí a coisa anda.Para ajudar a piorar, sinta essa:

NO FINAL de 2008, as imagens da grande tragédia de Santa Catarina impregnaram de dor e perplexidade os olhos e corações de todos os brasileiros.

30/Março/2009 – Caco AraújoEnchentes acontecem, mas o impacto foi muito maior devido à destruição sistemática do ambiente no Estado, campeão nacional de desmatamento dos remanescentes da mata atlântica na última década.Agora, mais precisamente amanhã, nova tragédia ameaça Santa Catarina e o Brasil. Desta vez ela é política. A Assembleia Legislativa votará, em meio a um megaesquema de propaganda agressiva contra os ambientalistas, projeto de lei que inacreditavelmente pretende, entre outros absurdos, reduzir a faixa de proteção das matas ciliares, nas margens dos cursos d”água, de 30 para apenas 5 metros!Desde 2001 há iniciativas para elaborar um código ambiental estadual. Em 2006, entidades do setor produtivo recomendaram que ele se fundamentasse na “estrutura fundiária do Estado e em suas peculiaridades regionais”. O que isso queria dizer vê-se agora.

Ao longo de 2007, debates coordenados pelo órgão ambiental estadual (Fatma) resultaram em proposta encaminhada à Secretaria de Desenvolvimento Sustentável e entregue solenemente ao governador em março de 2008. Desde então, governo e membros da Assembleia desfiguraram de tal modo o texto que ele pode ser chamado de Código Antiambiental.

Retira competências e responsabilidades dos órgãos estaduais na proteção ambiental, reduz áreas protegidas e atenta contra a Constituição e a legislação federal, numa verdadeira desobediência civil às avessas, em nome de um pretenso desenvolvimento. Bons tempos em que a desobediência civil era praticada em favor da sociedade.
Desse tipo de desenvolvimento já conhecemos os resultados, tanto no nível global quanto no local, como muito bem sabem os catarinenses que perderam suas famílias e casas nas enchentes de 2008.

Aonde querem chegar? Impossível não associar o que acontece em Santa Catarina com as reiteradas tentativas, no Congresso Nacional, de mudança no Código Florestal para flexibilizar normas ambientais. Como a pressão da sociedade e a atenção da mídia nacional têm empatado essas articulações em Brasília, parte-se agora para uma estratégia de minar o código nos Estados, apostando no fato consumado de “leis estaduais” sob encomenda, que desfigurem a legislação federal.

Santa Catarina deu a senha para arrombar a porta. Agora é o momento de saber de que substância é feito o Estado brasileiro.

Fonte: Folha de São Paulo – 30/03/2009

(texto copiado na íntegra daqui)

Assembleia Legislativa de Santa Catarina aprova Código Ambiental que reduz área protegida

FLORIANÓPOLIS – A Assembleia Legislativa de Santa Catarina aprovou na noite de hoje um novo Código Ambiental que diminui a área de preservação determinada pelo Código Florestal Brasileiro. Entre as principais mudanças está a redução da área de proteção das matas ciliares, às margens dos rios, de 30 para 5 metros. No caso das nascentes fluviais, a área cai de 50 para 10 metros. O novo Código foi aprovado por 31 deputados dos 38 presentes no plenário. Os agricultores vibraram com a aprovação do Projeto de Lei           238/2008        , que seguirá agora para o governador do Estado Luiz Henrique da Silveira, que deve sancionar a legislação em 30 dias. Matéria de Júlio Castro, da Agência Estado.Em um de seus dispositivos está prevista a remuneração, por parte do poder público, de agricultores que desenvolverem e executarem projetos que possam preservar o meio ambiente. Os agricultores também vão contar com a gratuidade dos licenciamentos ambientais, além de usufruírem de um fundo de compensação ambiental, a ser criado pelo governo.Para o ambientalista e biólogo Juliano Albano, o projeto de lei foi aprovado sem conteúdo ambiental. “É um desrespeito com as leis federais. Foi aprovado sem critério e de forma irresponsável. As gerações futuras é que sofrerão com o que foi decidido aqui”, protestou, dizendo que o Código é inconstitucional. Relator do projeto, o deputado Romildo Titon (PMDB), rebateu: “Fizemos inúmeras consultas à Ordem dos Advogados do Brasil e estamos muito à vontade, mas nada impede que lá na frente possamos reformulá-lo”, afirmou o parlamentar governista. O território catarinense conta com 41% de mata e 168 mil hectares de matas ciliares.
 
 

Um pensamento sobre “CurupiraNews

  1. Não tem como comentar, só tem como lamentar. Historicamente a parte humana do homem é uma concepção de fachada e não uma realidade, pois um ser humano e inteligente, jamais poderia se auto destruir conscientemente. O que foi escrito e por sinal muito bem colocado é uma realidade inconteste e admiravelmente escrita por quem tem inteligencia para reconhecer o óbvio.
    Nos últimos 40 anos estudei todos estes assuntos e conclui que temos que mudar o enfoque de alertar, denunciar ou esclarecer pelo de assuntar, encurralar e colocar os assuntos não no que irá se agravar mais do que já é grave e sim que os problemas já são insuportáveis. O maior problema do mundo não é a poluição, por enquanto, não é o aquecimento do planeta, não são os meios de transporte ou geração de energia etc, o maior problema do mundo é a falta de matas nativas, vamos nos ater a este problema, pois os outros ainda são possíveis de resolver se tivermos 70% de árvores nativas cobrindo todas as regiões do mundo.
    Teria imenso prazer em dar continuidade a este contato, pois precisamos unir todas as vertentes de pensamentos positivos e construtivos para ser possível dar mais algumas décadas de vida aos nosso filhos e netos.

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